sábado, 3 de junho de 2017

a.v.

alberto veiga acredita piamente que a fotografia é um ato político. e à essa altura, à beira da nova república, como ele mesmo costuma chamar nossos tempos, alberto ajusta bem os olhos pra gravar a realidade dos homens no mundo. 

no meio do magote agitado das cidades, alberto não está nunca indiferente; diz ele que sua D3100 o trouxe de volta. gostava da composição natural das folhas, das pedras e das terras dessa parte sul da américa, mas as cidades, sua turba em agitadas manifestações aquecem mais seus olhos. o conflito é para ele um espaço de resistência criativa, onde coloca em quadro pedaços dos muitos conjuntos dispostos pelas avenidas, ruas e construções oficiais.

 "- a gente vai se inventando no momento do conflito. a gente tem que tomar partido, né? eu tomo partido. acho que isso me humaniza um pouco." 

sempre cortês e com cabelos brancos tingindo as laterais da cabeça, as expressões de alberto transmitem as heranças do seu velho pai - que ocupa suas memórias com sua barba branca e as notícias sindicais. ancestralidade dessas que o fazem sentir parte de um movimento mais amplo da história e que o fez acreditar no seu olhar atento sobre a realidade. por isso, fotografa tudo e conta o mundo por imagens. como um reflexo de espelhos, sabe? alberto parece sempre impressionado com a ordem das coisas e fotografa para entender a tensão manifesta nas políticas e ausências do conjunto humano que o cerca. sobre o país, hoje, ele entende que não há um desespero aberto, mas sim um desespero profundo. acredita que os historiadores, no futuro, irão falar sobre tudo isso que nos passa; mas ele, já faz tempo, captura a vida e a história-presente com seus olhos bem abertos; transformando seu olhar em pinturas de jornais. 

Chan Marshal

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