quinta-feira, 8 de junho de 2017

Linhas Azuis

Linhas, traçadas sobre um livro que fala das experiências da vida de alguém, são azuis, tortas... feitas com pressa para destacar o raciocínio de quem devorava as palavras. Sem cuidado, feitas apenas para marcar o ponto em comum entre as personalidades.
Essas linhas foram feitas em um livro caro e novo para nos apresentar Haruki Murakami. Mas, assim como quem escreve sobre o outro fala ainda mais de si mesmo, quem indica um livro ao outro também grita quem és. Através das mesmas palavras, dada por outro, sobre outra coisa, mas que também é encontrada nele. A literatura tem o dom de falar por muitos. Mas o foco hoje é em uma pessoa que dessa vez, colocou seu ego abaixo. Não anunciou suas próprias obras, mas expressou, ainda que pelas linhas azuis, sua ânsia.
A diferença que marca a vida de quem é e de quem deseja ser, é a necessidade de se afirmar. Talvez, se traçar o rumo dos seus estudos em psicologia, a segunda parte não seja um problema, talvez seja só insegurança, disfarçada pela prepotência. Já que, para ambos, para se escrever um romance, é necessário que haja prepotência. Apesar disso, não gostam de receber prêmios.
Tanto para um quanto para o outro, o processo de escrita envolve dedicação, esforço e sacrifício. Acordar às cinco da manhã e escrever sem ingerir nada além de água. Escrever qualquer coisa, derramar-se em palavras. Mesmo que as vezes, em seu apartamento classe média, só lhe invada a inspiração solitária dos antigos relacionamentos, dos últimos divórcios, dos filhos que não teve... A sede de escrever o não larga, seu desejo não foi saciado. A ânsia de ser lembrado ainda em vida continua. O angustia... é expresso em aula. Seu corpo, boca e mente falam, sem usar as próprias palavras, mas destacando-as em linhas azuis.
Talvez as linhas azuis tenham sido feitas apenas para marcar pontos que reunidos traçariam mais um perfil para sua coluna, a dorsal e a do Extra. Que fica ereta, realçando o nariz empinado, pedindo para ser lida por quem o assiste. Sustentando a pose que vem ao chão como uma pena, enrubescendo o rosto ao ser acusado em plateia. Pega no boné, coça atrás da cabeça... Você foi pego! Se mostrou indo pelo caminho contrário daquilo que almeja: se tornar um bom escritor sem precisar lembrar os outros disso, mas sendo lembrado por eles.
Pode ser que tudo isso faça algum sentido. Mas talvez, eu só esteja olhando pelo ângulo errado.

-Nina Campos

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