“Precisa de ajuda?” uma frase curta que carrega responsabilidades, um compromisso assumido, mas ouvida algumas vezes de pessoas preocupadas mesmo com desconhecidos.
Sou apenas um cidadão comum que decidiu protestar por seus direitos... e levar seus filhos junto para que aprendessem a defender o que é deles. Um cidadão comum que viveu momentos de desespero ao estar com duas crianças pequenas em meio a bombas lançadas na multidão pela polícia. Mas um homem me ofereceu ajuda.
Este homem, com alguns fios de cabelo já descoloridos e confortáveis roupas joviais, carregava uma câmera, a qual guardou para empurrar o carrinho de bebê. Enquanto nos afastávamos do local,eu levando o mais velho no colo e ele o mais novo no carrinho, o homem, Alberto Veiga, contou ser fotojornalista. Não trabalhava para nenhuma grande empresa, mas vendia suas fotos para redes de notícias no exterior, pricipalmente uma alemã. Ele garantiu que não poderiam usar seu trabalho para distorcer nosso movimento por que fotografava retratando suas opiniões, e sua formação política, influenciada pelo pai, fazia-o um de nós.
Perguntei se não queria avisar a seus companheiros que estava bem para não se preocuparem, mal sabia que ele prefere trabalhar sozinho e ver os colegas só quando entrega suas imagens, ocasiões em que observa também as obras dos mesmos. Segundo Beto, a forma como a situação do país é representada por estes, lá fora, é bem mais fiel à realidade.
Entretanto não lembro todos os detalhes da conversa, pois o outro não usava palavras difíceis (como se poderia esperar dos de sua área) e a caminhada foi longa. Sei que Alberto comentou sobre ter começado recentemente na carreira, após 20 anos de biologia? E fotografias “amadoras” da natureza -“o meio ambiente também é uma questão política” - era engraçado como parecia alegre todo o tempo sorrindo ao falar de fotografia. Sei que Alberto é uma pessoa corajosa que se arriscou a mudar de emprego ‘depois de velho’ e que se arrisca de segunda a sexta pelo que acredita, alguém que segue os ensinamentos familiares mesmo com mais de quarenta anos vividos e o homem que me ajudou a cuidar da segurança de meus filhos naquela noite. Beto, muito obrigado.
Ezra Nassar Guimarães
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