sábado, 3 de junho de 2017

Alberto Veiga é um homem inquieto. A mesa de escritório e aquela rotina maçante era uma de suas razões para estar inquieto. Enquanto o Brasil pegava quase que literalmente fogo, ele a tudo só podia observar preso e enclausurado na frente de um computador. Estava na hora de mudar.

Mudar porque não importava a estabilidade de um emprego em que estava já há 20 anos, era preciso participar daquilo que acontecia ao seu redor de alguma forma, era preciso olhar mais de perto os acontecimentos que talvez sejam, segundo o próprio, os mais importantes dos últimos 50 anos. Mas como?

Foi aí que decidiu "casar" com seu amor informal: a fotografia. Agora não mais para retratar a natureza ou coisas qualqueres. Não mais para retratar "o parado". Mas sim o "em movimento".

O primeiro cenário escolhido foi Brasília. Um pouco longe de sua terra, o Rio. Mas palco do grande acontecimento político dos últimos anos: o impeachment de Dilma Rousseff. Não começou a tempo suficiente para fotografar patos gigantes e caras pintadas mas já conseguiu muita coisa.

Na volta à sua terra natal, enfrentou bombas, gases e cacetes para retratar o desespero do Rio, envolto em corrupção, crises políticas e manifestantes de todos os manifestos.

Aliás, manifestação é o que o atrai. O clima de indignação e engajamento principalmente. Ele, engajado desde o berço, filho de um sindicalista que odiava o conformismo , hoje, olha só, envia suas fotos para outros sindicalistas. 

Esses, do outro lado do oceano, ávidos por mostrar o momento recente do Brasil sobre outra perspectiva, outra lente. As lentes de Alberto Veiga.

Essas lentes que fotografam de cartazes à ônibus queimando, mas que não se importam de deixar a melhor foto para depois. Ás vezes, se é melhor mexer no ambiente, interferir no cenário. Coisa tão indigesta para muitos fotojornalistas mas que Alberto não se importa em fazer. Ainda mais se o cenário for uma mãe correndo de bombas da polícia com um filho no colo.

Ele, que viaja para o lugar do Brasil onde tenha uma manifestação popular para acontecer, um possível conflito a se fotografar tem o sonho de não ficar limitado a nossa "terra brasilis". Quer ir a outros países retratar os conflitos deles. 
Essa rotina  de sempre sair e sempre viajar, poderia até criar problemas para ele em casa. Não fosse o fato de sua mulher, também jornalista, sair tanto ou mais que ele. Não ter filhos, talvez, deva ajudar esse casal que, pela profissão que tem, não se importam muito com o que vão ganhar. Mas sim que mensagem passar, o que vão retratar.

Mas nem tudo é só fotografia e correr de bombas na vida desse homem. Afinal todos merecem ter seu descanso. Nos seus tempos de escritório gostava de surfar, na verdade, desde bem antes disso: desde os 12 anos, por 30 anos, surfou pelas ondas fluminenses. Mais uma coisa tipicamente carioca de um típico carioquês. Um homem com trajes e trajeitos reconhecidamente cariocas.

Um certo gingado na hora de falar, um ar meio malandro. Falando com a boca e com as mãos, movimentando sempre a cabeça. Um quarentão com um espirito totalmente jovial. 

Mas os tempos de surfar já passaram. Hoje em dia prefere escalar. Assim como escala na sua vida profissional.

Escalando e escalando sem parar. Até o dia em que quem sabe, poder tirar uma foto de Lula. Uma figura impactante, goste dele você ou não. Quase conseguiu em Curitiba, na época do depoimento do ex-presidente ao juiz Sérgio Moro. Mas quase esmagado por uma tsunami de outros fotógrafos, poucas fotos proveitosas pode tirar.

Alberto Veiga não é conhecido como seu amigo Felipe Pena, não tem coluna semanal no Extra para expor suas opiniões e suas críticas ao momento atual do Brasil. Mas tenta, com suas fotos, demonstrar o quanto nosso país está com problemas. Sem palavras. Mas com muitas imagens.

Omar Larossa

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