sábado, 3 de junho de 2017

Os contos por trás de uma imagem


Eu nasci assim como você. Seja de parto normal ou não, tenho certeza, e essa é a única que vou ter daquele dia, foi que um grande flash iluminou meu rosto, me fez piscar e me assustou, ao ponto de eu alavancar minha pequena mão a cabeça e coça-la: Sei disso, pois até hoje faço isso com frequência.

Quando sai da maternidade, isso já foram meus pais que me contaram, eu olhava para tudo, a rua me impressionava e meus olhos lacrimejavam. Deve ser daí que nascera minha tamanha curiosidade pelos fatos novos, minha paixão pela urbanização, a ponto de hoje em dia, retrata-la juntamente com a realidade concreta e a minha emoção visivelmente apreciada em momentos de choque.

Cresci. Virei biólogo. Adorava conviver com aquilo, todo dia reproduzia imagens do ambiente, mas precisava mudar. Sabia que ali, não era a minha praia. Continuei na companhia da câmera, mas agora o povo, com sua luta diária, garantia meu sustento. Fiquei apaixonado por fotografar aquelas cenas revoltantes, tão importantes socialmente, seja envolvendo homem ou mulher. Falar nisso, quando esses dois se juntam, ninguém segura. Minhas horas vagas diminuíram consideravelmente e meu sustento é por conta da minha produção. Apesar disso, entre fotografar ou ajudar alguém, meu lado humano sempre vence. Eu amo essa pressão.

Com essa agitação da rua, aprendi que com os gestos, podemos indicar muitas coisas, como por exemplo, onde se esconder. Quando estou indignado, também faço muitos movimentos. Outro poder que acho que tenho, é o de retratar a dramaticidade de uma cena com a minha feição. Mas também consigo sorrir em momentos de contradição nas minhas imagens. Sarcástico, talvez.

Sou preocupado e assustado, meu meio de trabalho me obriga a ser calejado. Lamento muito quando não consigo aquele close ideal, mas minha capacidade é tanta, que logo após isso, já visualizo outra e aquela já não era mais a ideal. Gosto de roupas simples, nada de mordomia, mas também se a coisa apertar, gosto de ter uma máscara em meu rosto.

Voltando ao meu nascimento, já não falo mais todo embolado, aquele famoso “coisa com coisa”, meu linguajar era simples, mas agora se tornou composto, isso tudo pela minha sabedoria e vivência nas ruas. Tem gente até que fala, que ao me escutar falar, consegue caracterizar uma cena perfeitamente.

E sabe aquele flash que iluminou meu rosto, lá no meu primeiro dia em vida na terra? Deve ter sido ele que me fez se tornar um Fotojornalista. Irei levar ele comigo até meu último dia, mas certamente nas minhas últimas horas, ele se apagará. Mas você não se livrará de mim. Sabe aquela mesinha que trabalho todo dia? Vá até ela. Lá, na terceira gaveta, você irá me ver, só que através das minhas fotografias.
                                                                                       Nelson G. Rodrigues Jr.

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