Ele sempre teve sua conexão com a natureza muito viva. Vinda desde sua pré-adolescência, quando o amor pelo surf apareceu, e tendo seu ápice quando se formou como biólogo. Alberto Veiga é um homem que deixa facilmente transparecer o amor que ele tem pela Nossa Mãe, e por isso decidiu por buscar a formação em biologia. Mas chegou um momento em que isso não era o suficiente para ele. Ele queria se encontrar em novos ambientes, nos quais as lentes de sua câmera fossem o principal mensageiro do seu trabalho.
Como se fosse uma substituição num jogo de futebol, sai o cenário da natureza, muitas vezes pacato, e entra um plano de fundo conturbado, composto por vários momentos de tensão, como o impeachment de uma presidente, as manifestações de uma população indignada durante uma greve geral. Não era algo que combinasse muito com o seu jeito calmo de ser, nítido em seu jeito de falar, com um timbre de voz calmo, sem exaltações, exalando tranquilidade.
No entanto, isso faz o contraste com tudo aquilo que ele viu. Alberto não aceita repressões violentas por parte da Polícia, e deixa claro isso a todo momento em seu discurso. E é por isso que usa sua câmera como um meio de denúncia. Aliás, é difícil dizer o que Alberto não captura quando obtém um aparelho fotográfico nas mãos. O mundo pode estar se acabando em bombas e tiros na sua frente. Mas se ele se deparar com alguma obra de arquitetura que salte seus olhos, ou algum espaçamento urbano de destaque, a preferência por registrá-lo não deve ser algo pelo qual você o deixe se espantar.
Não à toa, ele deixa bem claro que faz seus registros fotográficos de acordo com seus gostos pessoais, sem se importar muito com o que irão falar sobre seu alvo capturado por suas lentes. Um claro sinal de como seu instinto é total de independência. Apesar de trabalhar para uma agência de notícias alemã, Alberto também ressalta que ele nunca tirou uma foto com o intuito de ser premiado. O que não faz dele alguém que não tenha ambição, afinal, com um certo sentimento de empolgação na sua fala, declara que pretende sim participar de concursos, para ver se ganha um caraminguá extra, alem de um reconhecimento ainda maior por aquilo que faz.
E não dá para desencorajar Alberto desse seu objetivo. Muito pelo contrário. Talvez essa meta sirva para que o mesmo siga com seu trabalho que segue à risca a pauta que rege o seu jeito de pensar e de ser: como aquele que é progressista, que não tá satisfeito com o jeito como as coisas se encontram, e sempre acha que elas possam mudar para melhor. E é por meio da fotografia que Alberto faz isso.
Um homem de forte engajamento social, que sempre se faz presente em momentos de grande impacto na sociedade, como manifestações sociais, que justamente visam uma mudança de visão de mundo em relação àqueles menos favorecidos ou que ainda reinvidicam maior respeito, como mulheres e comunidade LGBT.
Por mais que agora o cenário em que Alberto se encontre durante seu horário de trabalho, que é inconstante, podendo surgir a qualquer momento, basta que algo de intenso cunho social esteja acontecendo, como um show de intelectuais que reúnem uma multidão em prol de um objetivo político, seja totalmente diferente daquele de outrora, que tinha como agentes seres que compõem o meio ambiente natural, pode-se dizer que Alberto ainda se faz presente na natureza.
Mas dessa vez, é um tipo diferente de natureza. É uma natureza que faz Alberto sorrir ao descrever os momentos em que estava realizando suas fotos, como se lembrasse com certo orgulho daquilo que desempenhou. E não é pra menos. É clara sua preferência por registrar situações de desordem, seja ela política, ao fotografar todo o caos que ocorria em Brasília durante o processo de impeachment da Dilma, seja ela social, ao captar ações violentas por parte da Polícia e ônibus incendiados por manifestantes.
Prova de que Alberto agora se encontra noutro tipo de natureza. Uma natureza selvagem, na qual o ambiente é a presa, e sua câmera, o predador.
Kevin Dezap
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