sábado, 3 de junho de 2017

Mesmo Patamar

Foi só um convite... Mas tudo que for dito pode influenciar cada pensamento de maneiras distintas. Estão em fase de formação e a formação define como olhar o mundo, meu pai definiu muito do que enxergo hoje. Sindicalizado. No Brasil essa situação é sempre complicada, independente do período que se vive.

Escolhi ser biólogo, já fiz de tudo na área, de ir a campo a ficar no escritório analisando os estragos que o nosso “desenvolvimento” tem causado no ambiente. Adorava viajar e registrar a natureza pura, onde o homem ainda não havia tocado.

20 anos no total. Foi ótimo, mas cansei. Quero ser mais ativo. Não que fosse indiferente, meu trabalho naquela época também tinha um valor social e político. No fim das contas... tudo que nos envolve tem. Porém, resolvi mudar.

O Pena? Amigo de escola. Meu cabelo grisalho eu não escondo, acho até charmoso, mas ele... usa aquele boné para esconder a idade. Ele fez o convite. Qual?! De conversar com a turma dele de jornalismo. Mas o que eu falaria para eles é a questão. Não disse que mudei? Fotojornalismo é o que faço hoje.

Espero não ter decepcionado, Pena prometeu levar um militar de direita para a entrevista e fui eu com minhas imagens, minha mais importante companhia ultimamente, atrás da família, é claro!

Eles me olhavam da cabeça aos pés para traçar meu perfil. Buscavam detalhes, desde minha passada de mão na sobrancelha ao balançar das minhas pernas cruzadas.

Contei tudo que vejo e tento passar com as fotos. Como o momento político do país vem gerando protesto e toda violência que enxergo. Coloco-me em uma profissão importante. Mais do que registrar, quero transmitir uma imagem. É inevitável não transparecer meu ideal, embora sejam imagens do real, que possam ser interpretadas, os ângulos definem o que sou, o que quero focar, quem é a vítima dos acontecimentos.

Percebo que tenho êxito naquela sala quando o foco das perguntas é em maioria o que a foto representa, como foi feita, o que penso da profissão e até as maquinas que uso. É empolgante mostrar e ver que estão interessados.

Das diversas imagens que levo a minha memória fotográfica guarda em especial a dos manifestantes que lutam e dos alunos que como eu, demonstram indignação com os dias vividos. Minha testa franzida carrega medo e preocupação, minhas mãos argumentam tanto quanto minha fala. Não tenho medo de me posicionar e não nego debates, mas o meu olhar através dos cliques já diz o necessário. Contudo a dureza dos fatos que mostro nunca espantaram minha alegria e eles viram isso.

Não foi uma entrevista. Foi um papo, sem hierarquia, com fatos, fotos, tristeza e felicidade. Mas felicidade seria lançamento de uma câmera mais compacta. Teria mais material e mais facilidade para correr com carrinhos de bebês, ou seja lá quem precisar de ajuda em meio aos conflitos que fotografo.

O que eu não sou?! Ignorante. Não vivo em meio a esse sistema sem ter contato com os atos, quero ser, quero viver, quero poder mostrar para quem não pôde estar presente. Não é a venda de uma foto, é a transmissão, o conhecimento, é a nossa história que independente de valor precisa alcançar a todos.

Apesar de como é levada e interpretada, se tivesse uma personificação, faria um book da Constituição, sou fã. Ou faria um pingente para colocar no pulso. Os detalhes me atraem, e são meu projeto para o futuro. Sempre carregamos detalhes da vida. Qual terei eu, Alberto Veiga, deixado nessa conversa?

Ìzis Duarte

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