Por ser uma amante da música conheci Haruki Murakami, em 1980. Antes de conhece-lo poderia jurar que Haruki era músico, pela paixão que flutuava pelos ares do seu bar, pelas paredes e pelas histórias. Foi no Peter Cat que de certa forma acompanhei parte das suas histórias de perto, um bar de jazz, onde conheci também Yoko e descobri que aquele lugar fazia parte da história de amor entre os dois que nasceu na faculdade de Dramaturgia em Tóquio.
Durante minhas idas ao Peter Cat para ouvir jazz, pude descobrir que além de um grande amante da música, Haruki era também amante da literatura. Mas a maior surpresa foi conhecer o escritor tão intenso e ao mesmo tempo tão discreto que havia por trás de um amigo como ele e quando li sua primeira obra, “ouça a canção ao vento”, senti que o mundo precisava ter a oportunidade de ler suas histórias, mais que ouvi-las em um bar.
Dois anos depois Haruki pensou em apostar em si mesmo, passou a se dedicar cada vez mais como autor e o bar deixou de ser uma prioridade, tendo em 1982 seu fim. Alguns anos depois ele e sua esposa, Yoko, se mudaram para Europa e com o tempo passei a ver suas histórias chegando cada vez mais distante e indo longe como deveria. Não poderia ser diferente, em 1987 aquele mesmo romance que li na mesa de seu bar, estava por todas as livrarias.
Sempre lembro-me de Haruki contando do dia em que virou escritor, em um jogo de baseball aos 29 anos, simplesmente tomou a decisão de comprar uma caneta e um caderno em uma papelaria qualquer e começar a escrever. Poderia descreve-lo como um sonhador realista, afinal de contas fez da sua paixão que surgiu de repente, uma prioridade e assim se tornou um grande autor.
Haruki ganhou um prêmio que fez sua carreira de escritor começar de fato, mas também competiu por outros que não fizeram falta e pela forma sem graça de falar sobre premiações, qualquer um saberia: Este não é um escritor de premiações, meios sociais ou círculo literário. Esta é um escritor dedicado aos leitores e curiosos.
Sempre notei dedicação e disciplina em todas as suas apostas e provavelmente por isso, todas eram apostas ganhas. Aos 33 anos, Haruki se dedicou aos esportes de resistência e se tornou além de escritor, um atleta. Ele administra seus dias entre esporte, música e escrita para manter o seu equilíbrio.
Quando penso nele e suas histórias que acompanho por tanto tempo, tenho certeza no quanto podemos ter sempre tempo para reinventar, enquanto tivermos tempo algum para nos dedicarmos.
Ritinha N. Garcia
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