sábado, 3 de junho de 2017

Ia Chorar que nem uma criança

As palmas inundavam o salão. Ora, era o momento mais importante de qualquer aniversário, mesmo que o destaque estivesse todo direcionado para a criaturinha realizando as maiores peripécias no colo da mãe e não para os parabéns em si. Um pouco atrás, desfocado do plano principal, estava seu pai, também conhecido como o aniversariante, com os olhos marejando e um sorriso tranquilo. Não se importava em estar em segundo plano. Nunca teve interesse em protagonizar nada. Preferia observar e, mais que tudo, como aquele momento merecia ser observado! Ao fim do show, discretamente pediu a voz.
–Três anos atrás, eu estava finalizando um dos meus projetos e sentia uma felicidade tomar conta da minha garganta a cada momento que passava. Queria comemorar o tempo todo. Nem imaginava que naquele insípido mês de outubro, eu seria surpreendido novamente.
–Ao fim de mais um domingo de trabalho, mal sabia que aquele seria o ultimo final de semana dedicado à luta contra um governo ilegítimo, eu me encontrava enlaçado nos braços da minha querida, refletindo sobre as circunstâncias do nosso dia, quando recebo uma ligação. Ignorei, minha cota de trabalho daquele dia estava esgotada. As tentativas se estenderão por mais 5 minutos até que fui obrigado a atender, né? Olhei no visor e estava escrito Sem ID do Chamador. Estranhei, mas atendi assim mesmo. Cara, era o Rogério Reis. –apontando para o homem com pouco cabelo que ria na sua diagonal. – Ele iniciou a conversa como uma ligação de trote em que eu havia ganhado um prêmio. Péssimo senso de humor. Depois da brincadeira, ele foi direto. Estava me convidando para participar de um projeto com ele. Falou que tinha ficado impressionado com a qualidade do meu trabalho e, principalmente com a minha visão. Eu... ­– até tentou terminar, mas foi interrompido por Rogério. –
–Acho melhor eu contar essa parte. Eu só disse que estava tremendamente impressionado com a maneira que ele olhava para as pequenas coisas. As minúcias que se escondem a olho nu. Como ele as transforma em protagonistas de suas próprias histórias. Desde a senhora que discutia com os policias até as nuances do tio de Miguel Zakhour. “São as pequenas coisas que ilustram os grandes trabalhos”, ele já disse. Mas eu queria destacar um ponto entre tais miudezas: as crianças. É engraçado como durante a produção dessas fotos ele não tinha filhos, mas fez questão de destaca-los. Os cliques com crianças eram carregados de tamanha delicadeza, que ele parecia sempre ter sido pai. E olha onde você está agora ­–direcionou a fala­ ao aniversariante–. Você é um grande pai.
–Obrigado pelas palavras meu amigo. Vamos continuar a história antes que perca todo o sentido ­–brincou, sorrindo da maneira de sempre, com um estrondoso riso em perfeita sintonia com um tranquilo fechar de olhos – Como vocês viram, eu não podia pude deixar de aceitar a proposta. Tolo fui, achando que nada poderia me surpreender depois disso. Era o finalzinho de novembro, eu estava atolado de trabalho, mal parava em casa, mas feliz. Deitei em minha cama, saudoso por minha querida esposa, e lá fiquei a noite toda. Quando meu celular começa a tocar. Deixei de lado por um tempo e, novamente, o telefone não parou e senti um estranho déjà vu.  Olhei no celular e, novamente, estava escrito Sem ID do Chamador. Atendi e as piadas com prêmios de sorteio começaram. Mas havia algo estranho, dessa vez a voz era feminina. Voz que eu reconheci imediatamente. E assim como Rogério, ela foi direta e disse: “Surpresa, você vai ser pai”. Emudeci instantaneamente. –lágrimas escorriam pelo seu rosto ao ponto que sua voz tremia enquanto ele tentava continuar– E uma sentia aquela mesma felicidade tomar conta da minha garganta. Mas dessa vez eu gritei. Eu soltei a alegria como jamais imaginaria. Não me importei com os vizinhos. Apenas gritei. Não sabia o que realmente significava estar realizado até aquele momento. –fez uma pausa para respirar e terminar seu extenso discurso. – Oito meses depois, eu segurei aquela felicidade em minhas mãos. Não podia gritar, mas não tive tempo para me importar. Olhei em seus pequenos olhos e disse: “Alexandra Veiga, filha de Alberto Veiga”. Isso era felicidade. Obrigado a todos por virem. Um beijo no coração.
Alberto segurou sua filha nos braços e sorriu. Aquela pequena criança significava tudo.

Alice Moon

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