sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Desejos: do Céu ao Inferno


 

Reflita: qual seu maior desejo? O meu é o sucesso. Mas, veja: sucesso é vago. Tirando a ocidentalização do nosso pensamento, por exemplo, na Idade Média, sucesso para os Vikings (como não tão carinhosamente chamávamos de bárbaros) estava atrelado à fama. Fama e legado. 

 

Outro exemplo interessante é a vasta gama de sucessos que é impetrado na vida de muitos. Sucesso profissional, sucesso amoroso, sucesso acadêmico, sucesso isso e aquilo. Muito louco, não?

 

Não faz mal. Continuo com o sucesso. Mas seria um desejo ou uma necessidade? Pergunta difícil, mas vejo necessidade como ligada a um problema. Não é o caso do sucesso para mim. Desejo sucesso, o ambiciono. Daí, vem minha maior pergunta... O que farei para chegar lá? Acho que a síntese aqui é crescimento. Sucesso é atrelado ao crescimento (a não ser que você seja herdeiro).

 

Preciso crescer, então. Na profissão, nas relações, nos estudos, na vida. Entendo também que há crescimentos e sucessos frustrados ou parciais. Daí me vem ditados como “o que não mata fortalece” ou “ora se ganha, ora se aprende”.

 

Sempre tento tomar cuidado para a frustração ou parcialidade não ser fatal, tal qual no grande mito de Ícaro. Sempre uma lição para a ambição.

 

Outra questão que levanto é se o desejo é necessariamente individual. Eu gosto de desejar junto com outros. Também gosto de manter minha coerência e crescer junto com outros. Ora, uma andorinha só não faz verão.

 

Afinal, essa crônica te traz, leitor, mais respostas ou dúvidas minhas? Creio que a segunda. Estive aqui, nesses parágrafos, perguntando e exemplificando, até contando meu desejo. Espero ter sido compreendido. 

 

Do Céu ao Inferno, são muitas léguas. Mais fácil encontrar Deus e o Diabo na Terra do Sol?

                                                                              

                                                                                        por Dante Alighieri II

Vontade que arde

     Desejar não é uma coisa bonita. Querer e não poder ter dói e é incômodo. Desejar é pecado e realizar é perder o controle. Desejo é controle mental e controle de corpos. Se não houvessem desejos, haveria liberdade. Mas, a liberdade não é bem-vista. De que adianta uma sociedade que ninguém tem poder? De que adianta uma sociedade capaz de se saciar e que, por isso, é incontrolável? Sendo assim, você deseja e peca. Eu também desejo e peco. Eu sinto como se houvesse uma voz sem dono gritando no pé do meu ouvido que preciso disso para viver. Todavia, o que eu desejo não tem dono e nem nome. Não é classificável e muito menos específico. Meu desejo é a vontade que me devora. 

    Eu me derramo em mim e me sufoco com minha própria respiração. Eu não sinto consciência do meu corpo e nem do corpo alheio. Não consigo, é libertinagem. Mesmo assim, eu quero. Eu clamo pelo toque e pelo calor. Quero sentir e quero derreter. Quero amar e quero odiar. Eu desejo tanto que desejar perde o sentido. 

    Imagino como seria poder amar e odiar com liberdade. Poderia derramar minha individualidade e essência no mínimo contato. Eu seria amoral. Portanto, me limito ao desejo. Apago minhas vontades e entrego ao subconsciente. 

    Meu desejo se projeta como uma fome terrível. Tenho fome de entender, de odiar, de amar, de viver e de me entregar. Quero aceitar que desejo e compreender minha essência. Eu quero arder por dentro e quero sentir o fogo do inferno, aquele reservado aos pecadores, na minha pele.

                                                                                                                              Por Vênus.

Ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?

 Acho que muitas vezes o que desejamos não é algo bonito para se dizer em voz alta. E estamos sempre nos reprimindo para caber nos desejos que são aceitos socialmente. No que é o certo a fazer e dizer em cada situação. Pelo menos eu sou assim. Cada mínimo passo que eu dê é calculado para ser o certo. 

Em partes, se eu não me reprimisse tanto seria mais feliz. Em outras acho que é até bom. Mas o que eu faria é: 
Eu falaria mais vezes quando eu acho as coisas injustas. E até falaria quando não fosse para falar, ou quando o que eu queria falar não fosse "o certo". 
Talvez não fizesse faculdade, pois nunca foi um desejo meu, mas só algo que fui alimentando com o tempo. Parece o certo.
Iria dizer quando estivesse brava e teria brigado mais vezes com as pessoas que usaram dessa minha mania de me reprimir para se aproveitarem de mim. 
Iria investir no meu sonho. O de verdade. Tipo Alex Supertramp. Sem me preocupar com o julgamento alheio.
Responder as pessoas, como eu fui ensinada a não fazer, teria mudado algumas coisas em minha vida.
 E se as pessoas não pudessem me "ver" acho que seria até mais fácil escrever essa crônica...

Jude flor 

 Durante os tempos de colegial, testemunhei todas as minhas amigas falando sobre os inúmeros meninos por quem elas tinham paixonites. Nas rodas de conversa, comentários como "Ele é tão bonito!” eram indispensáveis. Me sentia muito estranha por não reagir da mesma maneira. Quer dizer, não é assim que tem que ser? Meninas precisam se atrair por meninos.

Na virada da adolescência, finalmente conheci um menino que particularmente achava bonito e que, além de tudo, era simpático. Inconscientemente, pensei: vai ser ele. Passei o ano inteiro tentando ter um pouco de sua atenção, mas logo que saí do colégio, fui esquecendo de sua existência. Tempos mais tarde, descubro que o mesmo apoiou certo candidato na corrida à presidência. É, talvez ele não fosse mais tão legal assim.
Acredito que esses acontecimentos sejam fundamentais para compreender essa história e, francamente, compreendê-la também é um dos meus maiores desejos. Mas não é o foco, pelo menos não ainda. O lance é: descobri que (também) gosto de meninas. Que coisa, não é? Ao contrário do que se esperam, não fiquei desesperada quando aconteceu, na verdade foi a melhor sensação do mundo. Qual é o grande problema afinal? 
Recentemente, um cara passou a demonstrar certo interesse romântico em mim e, então, uma série de pensamentos acumulados do subconsciente vieram à tona. O porquê de eu não estar correspondendo de forma parecida ou se seria normal apenas querer correr de tudo isso. De longe não era a primeira vez que eu tinha essa sensação, mas nunca havia parado para refletir muito sobre. Desde então, minha mente tem experimentado um verdadeiro inferno a respeito da minha sexualidade, a qual eu acreditava estar confortável tempos atrás. 
É difícil pensar que, durante muito tempo, talvez eu estivesse mentindo para mim mesma, e que assumindo uma nova identidade, ficarei na sentença de novas batalhas para o resto da vida. E ainda confesso, enquanto escrevo esse texto, não tenho certeza de absolutamente nada. Mas o que eu posso dizer para o momento é que espero um dia vivenciar a liberdade. Ser livre e, principalmente, poder entender de verdade quem eu sou, sem me preocupar com julgamentos internos ou externos. 

Autoria de Beca Rodrigues.

Panela de Repressão

 Nascer, crescer, reprimir e morrer. Concluí ser esse o ciclo da vida. Repressão é panela velha, desde muito cedo cozinha vedada nossos desejos vedados. Em mim, as maiores repressões sempre impuseram o silêncio. Silencio a força estranha que há em mim, tamanha é a força oposta que me reprime. Imensa e intangível, ataca pontualmente e me cala a voz. Medo, talvez o mais primitivo de todos os instintos. Medo da exposição por medo da rejeição, por proteção busco um lugar seguro. Fardo pesado demais, a pressão da repressão provoca o acúmulo, condensa os quereres. Surge inevitavelmente a sensação de explosão iminente. Urgente! Preciso encontrar o escape! Escapo, então, da realidade.


Na fantasia me visto de mim por inteira. Me acho, me vejo, me ouço, me acato. Transformo meu ar em som, minha angústia em notas, meu desejo em timbres. Deixo sair a essência de mim e isso me acalma a alma. Me sinto mais perto de Deus porque me sinto mais perto de mim, essência divina. Não tenho medo dos julgamentos próprios ou alheios (estes primeiros são sempre os mais cruéis). Solto a voz, meu instrumento de sopro e de vida. Saio leve da fantasia, deixei lá os insumos dos meus acúmulos. Fui quem sou e quem quero ser. Até logo.


Estrela Maria.

Stars shining bright above you



Sim, tenho desejos reprimidos. Não por mim. Se não fossem as amarras sociais as quais temos que conviver todo tempo, eles já teriam sido externalizados | Por mim, até realizados. Um específico me incomoda porque sei que as chances de acontecer simplesmente não existem. ⚔ Gosto de acreditar que, pelo menos, não tão cedo. 

Vejo essa pessoa quase todos os dias, trocamos olhares, palavras, nada muito além disso. No início não era nada, apenas olhava e queria. E, se queria mesmo, era uma vez no máximo. Conforme o tempo foi passando, eu fui reparando mais, admirando mais e comecei a desejar. Foi aí que me vi em um caminho sem volta.

Um dia desses me peguei olhando para o seu pescoço e imaginei como seria se o mundo parasse e só sobrassem nós dois ali. Mas na minha cabeça ele parava no momento em que eu mordia bem no ponto o qual olhava. Na curva entre o pescoço e o ombro. Segurava sua cintura com uma mão. Com a outra pressionava sua garganta, fazendo perder o ar por alguns segundos. As duas mãos desciam e levantavam a sua blusa. Seu rosto virava. Nos beijávamos. Quando as mãos desceram de novo e desabotoaram sua calça, me chamam. Volto à realidade. 


Quem me dera!

Dias passaram e esses pensamentos vêm e vão. 


Não muito tempo depois vi essa mesma pessoa. Deitada, recostada em uma parede. Com as pernas dobradas de forma que eu poderia facilmente subir por entre suas coxas. De longe eu via seus lábios húmidos e me perguntei como seria prová-los. E de novo, os pensamentos voltam. Me vi ali, segurando suas pernas e as puxando em minha direção bem devagar. Deitei meu corpo sobre o seu e senti seus lábios. E desci. Beijei seu pescoço. Tirei sua blusa. E desci. Beijei seu peito, sua barriga. Desabotoei ㇐mais uma vez㇐ sua calça, abri o fecho e a puxei para baixo. E desci. E te beijei mais e mais. Desta vez, quando achei que não iam me interromper, 


você me olha. E sorri.



Vincenzo Carlo DellaVoce Rizzo Mancini.


Enganação


Me vejo preso num autoengano eterno, onde tudo que eu penso e falo é sempre uma meia verdade.
Eu não me sinto eu mesmo, não me vejo completo, a imagem que eu vejo no espelho não sou eu.
Diante de tudo isso eu me pergunto quando isso acaba, queria muito poder ter tal resposta. Todos os dias quando acordo eu sinto o mesmo "Hoje vai ser diferente, eu vou conseguir". Mas definitivamente isso não acontece.
Quero ser eu mesmo, e meu maior medo e nunca conseguir concretizar isso. 
Eu me visto, torço, exerço fé, estudo e vivo segundo minhas escolhas, mas nunca seguindo um livre arbítrio real.
Torço para que ninguém mais se sinta assim, é quase uma tortura.
Mas falta pouco pra isso acabar, eu vou me mudar. E quando eu falo me mudar não digo de casa, digo de uma coisa quase espiritual. 
Essa mudança é iminente e muito esperada.
Resta só saber se vai dobrar algo do verdadeiro Eu até lá. 

Vincent VanCoco

Meu mundo ideal



Meu maior desejo é: Largar tudo e sumir.

Agora você deve estar achando isso raso e insensível, mas vou explicar. 

Desejo é uma necessidade que se quer satisfazer a todo custo, e a minha necessidade é recomeçar. "Largar tudo" no sentido de deixar pra trás a antiga eu e viver novas aventuras que a eu de agora tem muito medo de arriscar. E "sumir", indo pra longe de onde vivo atualmente e da monotonia. 

Se eu pudesse, pegaria o primeiro avião com destino a qualquer lugar, sem bagagem, física ou emocional. Chegando lá, iria me redescobrir, estudar e trabalhar, sem opiniões alheias me fazendo querer desistir ou me botando para baixo. Viajaria por todo o mundo, conheceria novas pessoas, culturas, viveria novos amores e teria desavenças. Porém, uma coisa é certa, alcançar meu maior desejo significa refazer minha vida, em um lugar onde ninguém me conhece, onde ninguém sabe do meu passado e das minhas angústias, longe de quem me fez mal um dia. Entendo que nesse mundo ideal que criei na minha cabeça eu poderia sofrer, principalmente com as incertezas, porém valeria a pena.

Mas não posso. Não posso fugir. Não posso sumir. E não posso me iludir. 

Largar tudo e sumir implica em largar minha família, faculdade, amigos, trabalho e a segurança que tenho em casa. Já ouço dos meus pais que quero abandoná-los só de comentar que desejo morar sozinha. Ouço de pessoas de fora que eu deveria conquistar algo aqui primeiro para depois pensar em ir embora. Mas o principal é: o medo de fracassar e ser julgada. 

Que pessoa largaria os pais e iria embora? Insensível. Quem deixaria a faculdade de lado para se arriscar no desconhecido? Burra. E a lista de julgamentos imaginários não para de crescer. Meu desejo mais profundo é deixar minha vida atual para trás e começar tudo de novo, mas sigo reprimida pelo meu próprio medo dessa nova vida ser um fracasso como a de agora. No fundo, meu maior desejo pode ser acreditar mais em mim e confiar no meu julgamento, mas isso é assunto para outra crônica.


Com amor,

Daenerys Targaryen.


 Atualmente, acho que um dos meus grandes desejos é conseguir ser independente. Não digo necessariamente uma independência financeira, mas uma independência de atitudes e de sentimentos. Poder fugir de toda e qualquer opinião que me abale, poder me sentir segura comigo mesma, poder decidir minhas próprias vontades sem depender da validação de mais ninguém. 

As vezes acho não consegui me desprender da minha infância, sinto que dependo sempre de alguma afirmação para realizar meus próprios anseios. As vezes sinto que levo comigo a cultura machista de uma sociedade que busca me privar. Isso é difícil. 

O pior nessa situação, é que eu sei que isso só depende de mim, e que muitas vezes, eu mesma acabo caindo em normas sem sentido, e assim crio essa dependência. 

Vencendo essa barreira, eu serei livre. Eu serei feliz e segura com a minha própria companhia, minhas próprias opiniões, meus próprios sonhos. Mesmo que meus sonhos signifiquem  sacrificar a idealização dos que estão a minha volta e de uma sociedade que possui valores prontos, principalmente para mulheres. 

Por Mona Lisa

A irmã do meu melhor amigo

 Ontem estava voltando para casa, sozinho, pensando em alguma coisa qualquer quando passei por ela, a irmã do meu melhor amigo, aquela que sempre senti atração desde muito novo, e que ainda por cima é minha vizinha, mas nunca pude me aproximar por respeito a ele.

Todas aquelas memórias voltaram como uma bala em minha mente, como quando fomos à praia e ela estava com aquele biquíni vermelho, quando fomos ao cinema e ela não parava de sorrir olhando para mim, e na sua formatura com aquele vestido verde que só realçava como ela era bela.

Quantas vezes eu pensei em jeitos de conseguir o que eu tanto queria, já imaginei como seria roubar um beijo dela simplesmente chegando nela e a beijando sem dar tempo de explicar nada, e depois sim tentar conversar e conhecer ela melhor, afinal, para mim era só a Irmã do meu melhor amigo, mas por medo nunca tentei.

Talvez um dia eu converse com ele sobre isso e quem sabe eu não possa estar livre pra me libertar dessa coisa tão boba e poder finalmente fazer algo que eu desejo há tanto tempo, ficar com a irmã do meu melhor amigo.

Uatarreul.

Mais bela das canções

 Meu maior desejo é sair lá. Não morar mais com ela ou ele, estar completamente sozinho, na minha casa. Não vê-los todos os dias, sem convívio, sem barulho, sem drama e sem eles. 


   E agora estou aqui neste avião, com muitas pessoas, mas não tem convívio, não tem barulho, não tem drama e principalmente não tem eles. Não é como se eu odiasse tudo neles, ou adiasse eles em sua essência. 

  Mas agora estou em busca do meu lugar, onde eu possa me encaixar e ser quem sou, já que lá muitas vezes sou anulada por aquelas vozes, a correria. Eu realmente queria me encontrar, me ver sem a sensura ou a obrigação de agradá-los.
 
  Já fui na minha nova casa, um lugar que posso chamar de lar. É tão linda, com varanda e uma vista, tem espaço pra mim, sei que vou poder me expressar.

  Colocar os meus pés naquele lugar foi como tocar a liberdade, ouvir minha voz ecoando nos corredores, soou como a mais bela das canções, e essa eu quero ouvir todos os dias. Já me imagino vivendo e sendo feliz naquele lugar.
  
  Ninguém vai reclamar da minha maneira de comer, não vão acender a luz enquanto durmo, parece o lugar perfeito. Talvez um dia eu sinta falta deles.

Por Carol

Os amantes



      Eu te amo intensamente, sua companhia deixa as coisas leves, foi a primeira que me fez ver um namoro não só  como uma brincadeira,  me fez querer ter um futuro com alguém. Nunca faria algo para te machucar, não almejo ser a razão das suas lágrimas de tristeza e jamais quebraria nosso acordo monogâmico.
    Pois, para você a não monogamia é a pior morte embora, existam formas mais dolorosas de morrer numa relação, eu sei porquê já morri em outras, e as vezes, no tom da sua fala, no seu egoísmo, no seu jeito eletista de ser, você me faz morrer um pouco. Todavia, minha fé em você, de que só estamos numa fase ruim, faz com eu fique.
       E de repente, no meio do nosso desencontro, ela surgi, com sua leveza, seu jeito divertido e com sua beleza. Eu a quero tanto, as vezes penso, se só  a quero para poder ter aquela sensação de início de relacionamento, de coisas, leves, de conhecer aos poucos a pessoa. No entanto, quando vejo ela, sinto que não quero outro amor, que traga afeto, nem flores, nem momentos felizes juntos, quando  vejo ela sinto apenas o desejo de prazer sem compromisso.
    Quero que ela me ensine o significado de prazer dela, para poder sentir seu corpo derretendo em minha boca, ter os seus dedos puxando forte meus cabelos,  minha cabeça sendo presa por suas pernas, sentir seu corpo se contorcer, enquanto vejo o extremo do prazer no branco dos seus olhos. Sua pele colada a minha como velcro, ser queimado pelo seu calor , conhecer a sua silhueta com a ponta da minha língua. Quero ter chamar pelos nomes mais vulgares. Quero que chame pelo nome com gemidos Quero explodir de êxtase no corpo. Quero satisfazer todos os meus desejos não quero  o compromisso, a responsabilidade, apenas satisfação. Mas isso não é o suficiente para abandonar a minha relação. 

-Sandman 

ELA


“O que desejas? ”, perguntou minha consciência. “Não sei”, respondi. Menti. Sabia

exatamente o que eu queria. Mas ao mesmo tempo, não tinha certeza. Naquele momento

não tinha mais certeza de mais nada. Saltar do parapeito e cair em seus braços? Talvez.

Sentir a liberdade por segundos e me prender em tuas mãos para a eternidade. Essa

questão me assusta. De verdade. Sempre fui do mundo, todavia o mundo nunca foi meu.

Nem quero. Só quero que o meu mundo seja você. Confuso, eu sei. Mas ela me entende,

ou finge entender. Como que alguém me entende, sendo que nem eu mesmo me

entendo? Ela finge muito bem. Almejo o impossível para me contentar. Não nasci

poeta, porém almejo ser. Tudo é poesia, inclusive ela. As mais perfeitas frases de

Machado de Assis e Casimiro de Abreu não conseguem descrevê-la. Como queríamos

que isso desse certo. Triste é pensar que todo pôr do Sol é eterno e toda tarde tem um

fim. Desejamos o infinito para nós, mas nem começamos a construí-lo. Juro que não

estou perdido. Ando por linhas tortas, mas eu chego eu algum lugar. Basta você

entender. Na sua ausência, grito e não me ouço, me olho no espelho e não me vejo. Só

vejo aquilo que não está lá. Sinto o que não me toca. Você. Ah, meu bem, somos tão

complicados. Talvez seja por isso. Não pela distância, sociedade, Deus e o diabo.

Talvez nós sejamos o nosso próprio câncer. Aí eu me dou um tiro na testa e, de ironia,

me levanto. “ O que faria para realizar o seu desejo? ”, pergunta minha consciência, já

mais confusa do que eu. “Loucuras”, respondi. Estaria fazendo loucuras, mas com um

propósito. Emoção versus razão. Vivo um dualismo barroco dentro de mim. Você

adora. Me afogo no copo. Você chora. Desculpa, meu amor. Você pode até gostar de

mim, mas eu não. Infelizmente eu sou responsável pelo o que eu digo, não pelo que

você entende.

Autoria de Dirceu da Cruz e Sousa

505

 Na primeira semana, vi pela primeira vez o seu sorriso cafajeste, a curva do seu nariz, o jeito que você anda como se fosse completamente seguro de si. Não achei nada demais em você.

Na segunda semana, ouvi o jeito atrapalhado como você fala. Observei você lendo um livro que eu amo, e usando uma camiseta de uma banda da qual sou fã. Ouvi suas respostas educadas e inteligentes. Quanto mais eu descobria sobre você, mais queria descobrir. E a partir daí, esse seu sorriso cafajeste começou a ter outros efeitos sobre mim.
Na terceira semana, minhas expectativas foram quebradas em milhões de pedacinhos. Descobri, pela sua própria boca, que você é comprometido. Nos dias que se seguiram, você foi protagonista de todos os meus sonhos. Eu acordava todas as manhãs me sentindo irritada, querendo arrancar você do meu sistema. Não é sempre que eu sinto atração por alguém. Por que você, justamente você, namora?
Tentei parar de pensar em você, mas não consigo. Tentei até mesmo não escrever essa crônica sobre você. Deixar o rascunho lá, perdido no fundo da minha gaveta, escondido do mundo. Mas não consigo.
Imagino o tempo todo a sua boca na minha, aquele sorriso cafajeste se repetindo enquanto nos beijamos. Sonho acordada com você tirando a blusa, me puxando pra perto, o calor da sua pele contra a minha. Devaneio sobre como seria passar os meus dedos entre os fios do seu cabelo, que me parece ser tão macio. Ou então como seria passar minhas mãos pelos seus braços, sentindo seus músculos fortes. Imagino suas mãos largas e firmes me despindo, seus dedos percorrendo cada parte do meu corpo como se você tentasse gravar-me em sua memória. Penso sobre como seria ter você dentro da minha boca. Idealizo seu gosto, seu cheiro, e até mesmo o que eu veria refletido em seu rosto enquanto você se desfaz com meus lábios ao seu redor. Imagino o que você sussurraria no meu ouvido enquanto me toca. Quase consigo sentir seu suor se juntando ao meu, e ver na sua pele as marcas deixadas pelas minhas unhas. Penso em como seria olhar dentro dos seus profundos olhos castanhos quando seu corpo se fundisse ao meu, que sentimentos estariam refletidos neles. Imagino assistir a você se desfazendo, seus lábios sussurrando meu nome como uma prece. Minha mente projeta sua boca ao redor dos meus seios enquanto eu murmuro palavras profanas em resposta. Sinto seus lábios abaixo do meu ventre, seu sorriso cafajeste surgindo mais uma vez ao ouvir os sons que saem da minha boca. Percebo meu corpo se desfazendo sob a sua língua, e em seguida provo do meu próprio gosto na sua boca quando você me beija de novo. Finalmente, você me segura contra seu corpo, nossas respirações ofegantes, nossas bochechas coradas. Eu encosto em seu peito e relaxo em seu abraço.
Imagino escolher você para ser o meu primeiro. Apesar de tudo isso que vivemos juntos, nunca trocamos sequer duas palavras. E eu nunca poderei tê-lo.

Sanglard

Liberdade Reprimida



Um dia eu estava na rua com roupa de malhar e no período de 10 minutos fui assediada umas 4 vezes. Outra vez eu estava saindo com um short jeans e me perguntaram se não mostrava muito do meu corpo. E em outra, eu estava com um decote e recebi olhares descarados em cima dele. 


Quantas vezes fui orientada pela escola a usar roupas que marquem menos, afinal os meninos não conseguiam se concentrar. Quantas vezes eu deixei de usar certas peças pra tentar evitar um assédio. Foram tantas que fica impossível contabilizar. 


Sempre sendo sexualizada, julgada, questionada. Afinal, o corpo é realmente meu? Porque às vezes não parece. Talvez eu seja apenas uma marionete dessa sociedade que dita o que pode ou não ser feito, que me faz ter medo de escolher o que eu quero.


Eu queria muito sair vestindo (ou não) o que quiser sem o peso do que as pessoas vão falar. E o que eu faria se isso acontecesse? Tenho uma pequena lista. 


  1. Seria interessante sair sem blusa como os homens fazem, principalmente no verão do Rio de Janeiro. Abrir mão de qualquer parte de cima e sentir o vento batendo em toda parte superior do meu corpo. 

  2. Acho que eu aposentaria meus sutiãs. Eles realmente me fazem sentir presa, seria ÓTIMO andar por aí sem nenhum pano apertando meus seios.

  3. Ir para a academia com short ou top de malhar. Seria um sonho fazer isso sem receber assobios, buzinas e comentários escrotos.


É, realmente seria incrível ligar o fodase pra essa sociedade machista e nojenta, mas o medo de certas atitudes ainda fazem com que eu absorva esses comentários e pensamentos, internalize eles e siga algumas das normas de vestimenta. 


Por: Iris Granson


 Será que realmente somos alguém? Tantos desejos reprimidos pelo simples fato de não ser alguém especial o suficiente para realizá-los. Colocamos um grupo muito restrito de pessoas em um pedestal para realizarem os sonhos de todo o resto e apenas nos conformamos com o nosso suposto fracasso. Celebridades, políticos, bilionários, será que eles realmente merecem ser alguém no nosso lugar? Ou será que se tivéssemos todas as oportunidades que lhes cercam faríamos as coisas diferente? Eu sei que faria.

Se eu fosse alguém, não gastaria bilhões para construir foguetes que pretendem levar os mais ricos à Marte quando a terra se tornar inabitável, não declararia apoio à um Presidente que usa um feriado nacional para dizer que é inbroxável, não me manteria calada perante às grandes polêmicas pelo medo da exposição. Se eu fosse alguém, eu aproveitaria da minha imagem para trazer visibilidade aos que mais precisam e para as questões mais importantes. É muito angustiante ter tanto a dizer e ninguém para ouvir, é como querer voar e ter suas asas cortadas. Além da parte moralmente importante, se eu fosse alguém também iria nas maiores festas, conversaria com as maiores personalidades, seria chamada para os maiores empregos, teria a melhor casa e diversos outros desejos fúteis. Ah como deve ser bom ser alguém… 

Por Eleanor Rigby


Até o fim


Sempre ao seu lado até o fim, a minha vida é você. Se há uma palavra que me descreve,  essa é Vasco. O Vasco me define. O Vasco é minha vida, minha história, meu primeiro amigo. Alguns que não conhecem me perguntam por que te segui. É porque eu te amo! Eu levo a Cruz de malta no meu peito desde que eu nasci. E eu não paro e não vou parar. Na saúde ou na doença, nunca vou te abandonar. Meu amigo está doente e, há muitos anos só sabe sofrer. Por isso sempre estou aqui, passaremos da Série B. O meu desejo é vê-lo brilhar, a minha parte eu faço: nunca parar de apoiar. Sou vascaíno e o sentimento não pode parar! Em São Januário, estarei ao seu lado para te ver ganhar. E cantar outra vez vez, com os loucos da saída 3. O Vasco é minha alegria, daqui para a eternidade.

    

                                                                                                               Por Junin Mars.

A musa de fogo



Minha sereia, eu sou todo teu.

Desde que nos conhecemos,

algo dentro do meu peito ardeu


Foi assim que deixei essa paixão rolar.

Queria tanto te ter,

que já não conseguia controlar.


Cresceu, virou amor, não sosseguei.

Até conseguir te beijar pela primeira vez.


Meu maior desejo era poder te chamar de minha.

Minha namorada, minha noiva, minha esposa…

Pois é, até o desejo de casar eu já tinha.


Com esse anel de virgindade em meu dedo,

me perguntava se gostaria de esperar comigo,

ou, então, acabar com isso logo cedo.


Agora, tudo o que eu queria era te levar ao Altar.

Dizer “sim”, ouvir o seu “sim”.

Mostrar ser capaz de te amar, mesmo se o mundo acabar.


Oh, garota dos cabelos de fogo,

retire a castidade que me envolve.

Se entregue a mim, antes que eu fique louco.


Pela noite toda te amaria…

Em um ritmo gostoso, melodioso,

até mesmo durante o dia.


Mas há aquele bombeiro,

que combina mais contigo.

Ao mesclar com seu fogo, ele foi mais ligeiro.


Infelizmente não tive vez.

Meu medo de ficar sozinho retornou,

sem nem perguntar, com calidez. 


Apenas o garoto do boné vermelho e sua paixão impedida.

 Quero me libertar.


 Esse é um desejo que eu não escondo na minha vida pessoal e entre amigos, mas na vida familiar é um assunto delicado. Sempre ouvi da minha família que se eu fosse quem eu verdadeiramente sou, e expor para todos, eu seria expulsa de casa e eles perderiam contato comigo. Ficaria sem nada. E eles falavam isso da forma mais horrível possível.
 O que eu realmente quero é andar com ela, abraçar ela e dizer que "eu te amo" livremente em minha casa pra ela, sem medo. Quero ter a escolha de amar e viver sem temer perder outras pessoas que eu gosto. Parece simples para muitos que olham de fora, mas para quem vive é um peso enorme de escolhas.
 E se eu pudesse escolher, eu oficialmente me declararia, sairia de casa nesse momento só para ter minha libertação, perderia o contato com eles (Se eu não estivesse hesitante sobre como seria meu futuro). Não importa se alguém estivesse nas minhas aventuras, eu viveria todas elas sozinhas apenas para não ter que me esconder e fingir todos os dias. Bem provável que eu sairia xingando todo mundo dessa família, que me ofendeu por anos só pela minha sexualidade, como se eu os machucasse de alguma forma só por isso.
 Meu desejo é não me esconder.

- Jo March.

O sonho de quase toda criança no Brasil é ser jogador ou jogadora de futebol, e para quem já passou muito perto disso, a vontade de realizar pelo visto nunca passa. Mesmo que pense em voltar no passado para consertar, cometeria os mesmos erros de falta de humildade e entrega ao esporte, então é se acostumar com a nova realidade para seguir em frente. 

Se alguém chega para me perguntar por qual razão não tento mais, sempre simplifico e digo que a quarentena acabou com meu corpo, mas pra quem me conhece, sabe que só isso não me pararia. A verdade é que a pandemia acabou, além do meu corpo que é recuperável, com toda minha confiança no meu jogo. Não acredito mais em mim. 

Além disso, sempre sofri represália da minha família pela escolha da carreira de jogador e não em uma carreira acadêmica. Pelo visto eles acabaram ganhando essa guerra, estou na faculdade federal e muito longe do futebol. Me perdi pelo caminho. 

É engraçado passar pelo processo da arrogância e falta de disciplina por ser acima da média, pra não ter mais capacidade de jogar. Se Deus existir, foi duro e sádico na lição que me deu. 

Por Barba Ruiva.

O desejo reprimido mas não esquecido


A palavra "desejo" em seu significado mais simples significa querer ou aspirar algo (ou alguém). Todos nós desejamos alguma coisa. E todos nós desejamos alguma coisa que não podemos ter,ou melhor,que não podemos sentir.

O ano é 2018, e lá estava eu no auge da minha juventude com muitos desejos e curiosidades. E lá esteve ele,no auge da sua vida profissional com muitas aspirações e experiências. Experiências as quais eu ainda não tinha, mas desejava ter.
Acho que o fato dele parecer ter vivido muitas coisas e saber falar sobre diversos assuntos,era o que mais me impressionava. Poderia passar horas ouvindo ele relatar sobre as festas que ia quando tinha minha idade,e seus passatempos favoritos da época.Meus amigos até estranhavam o porque de eu gostar tanto de conversar com um cara que poderia facilmente ser meu pai. Mas eu nunca tinha visto ou sentindo maldade na nossa relação. Até que em um certo dia,nossas mãos se tocaram de um jeito estranho. Eu arrepiei.
Estranhei a sensação pois nossas mãos já tinham se tocado em outro momento,e nada tinha acontecido. Ou melhor,eu não tinha sentido nada.Entao,a partir desse dia, minha vontade de vê-lo,de ouvi-lo, e de sentir sua mao na minha,aumentou. Porém eu sabia que queria sentir mais que isso,mas também tinha noção de que eu nao podia. 

Ele tinha uma família e uma idade bem superior a minha. Todos achariam errado e até ele acharia errado. Mas será que eu também acharia errado?Eu achava. 
Mas isso não diminuiu em nada minha vontade de ter ele. Ficava ansiosa para os nossos encontros semanais,e enquanto escutava ele explicar sobre diversos assuntos, a minha mente só conseguia pensar nos nossos corpos se encontrando fora dali, e em outro contexto.  Perdia horas fantasiando nossos encontros, imaginando qual seria a sensação de ter ele,de ser vista por ele. 
Porém eu sabia que nossos corpos só podiam se encontrar na minha mente. E essa barreira foi me enlouquecendo com o tempo. Por que seria tão errado? Por que ele não poderia me ver com outros olhos? Por quê?
Muitos questionamentos que me atormentaram durante um tempo, até o dia em que eu simplesmente comecei a negar essa vontade. Eu o desejava,mas era um desejo que tinha que ser reprimido,e foi o que aconteceu. 

Se eu ainda sinto algo? Devo sentir, afinal desejos só deixam de ser desejos quando são realizados. 

Por Lou Clark.

Meu desejo

 Acho que se fosse pensar em um desejo atual reprimido iria ficar muito tempo sem conseguir escrever nada, porém se fosse escolher algo que pudesse fazer, minha maior vontade que não posso realizar, com toda certeza seria largar a faculdade e simplesmente viver viajando, bebendo muito e usando algumas drogas. Me imagino fumando maconha, tomando um doce e só viajando em um ônibus, van ou até em uma kombi, acho que o último seria o mais legal. Sair pelo Brasil a fora, ir para Bahia, conhecer alguns outros estados avulsos, tipo Tocantins, Amazonas, sair sem rumo mesmo, só fazendo nada, não me preocupando com nada, só ficando maluco mesmo. Me envolver com várias pessoas diferentes, sem nenhum compromisso, só vivendo um dia de cada vez. Acho que esse seria meu desejo atual e sei que não tem como realizá-lo, até porque tenho ciência de que preciso fazer algo que me sustente no futuro. Mas se soubesse que fosse morrer, ou se ganhasse por algum motivo dinheiro para realizar essa minha vontade, não pensaria duas vezes. 

DOG! DOG! DOG!


Desde pequeno sempre tive um anseio por ter um animal de estimação, mas não qualquer pet, e sim, um maravilhoso cachorro de pelos seduzentes. Porém, meus pais sempre falavam para mim “ Joseph, um cachorro dá muito trabalho! E você não tem responsabilidade”. Então, eu olhava bem no fundo dos olhos deles e começava a dar mil e um motivos dizendo o porque sou responsável, depois que via que eles não mudariam sua decisão, começava a gritar e chorar, como qualquer criança birrenta. Eu lembro que no dia dos meus amiguinhos levarem o cachorrinho para o colégio, eu somente olhava para cada um deles e dizia: um dia vc vai ser meu, só meu, mais de ninguém!

  Anos se passaram, e eu finalmente tive a oportunidade de realizar meu desejo. Fui até um abrigo de animais e olhei para cada cachorrinho travesso. Até que um deles me encantou, olhei no fundo de seus lindos olhos castanhos claros, e disse: você agora é meu, só meu, mais de ninguém. Ele, Braddock, meu lindo filho, não pára um minuto, come todas as sandálias, e até mesmo as almofadas do sofá. Eu fico louco e quando vou gritar, lembro que ele é a realização de um dos meus maiores sonhos. Hoje, eu entendo que aquelas falas da minha mãe a qual tanto causou tristeza no meu coração, não era maldade, e sim, mais um zeloso trato de mãe. 

Por Joseph Baptista

Liberta


     Desejo, segundo o dicionário, é ter aspiração, vontade e propósito. Eu já não reconheço mais a minha aspiração, a minha vontade ou sequer o meu propósito há algum tempo. Ou quem sabe o meu subconsciente só tenha os engolido temporariamente, fazendo com que eu não os enxergue mais com clareza, embora eu possa senti-los aqui, presos em minha carne, gritando para sair, clamando pela liberdade um dia. Enquanto tal dia ainda não chega, posso dizer que almejo por aquilo que, então, os libertará: uma boa saúde.
     Darei risadas sinceras das piadas dos meus amigos, conversarei sobre assuntos que gostam, sentirei de volta uma energia que já não sentia mais. Eu farei de tudo e serei tudo aquilo que perdi oportunidade de ser quando estava estável: comunicativa, confiante e expressiva. Só que o mais importante de tudo é que eu enfim serei eu — estarei liberta das minhas amarras.
     E quem sabe esse seja o meu desejo mais recente. Algo simples para muitos, mas não para mim.
Autoria de Zhoongli.

O desejo reprimido pelo tempo


 

Quando eu tinha menos de um ano de vida, meus pais me levaram para viajar aos EUA. Depois disso, inúmeras vezes voltei na terra do Tio Sam. Me apaixonei pela língua inglesa, e consequentemente pelos países que falam inglês. E, com isso, fui desenvolvendo ao longo dos anos da minha vida o desejo de estudar e de morar lá fora. Uma parte desse desejo, o de estudar no exterior durante o ensino médio ou faculdade, já era. Isso se deve muito por conta do tempo que já se foi, do tempo que eu praticava esporte de maneira séria, o qual poderia ajudar a me levar para fora do país com mais facilidade. Com a minha “aposentadoria” dos esportes, a ida para estudar no exterior ficou bastante prejudicada, e acabou me abalando. Como resultado acabei reprimindo aos poucos esse desejo, ou até mesmo não desejando mais esse sonho, e assim, decidi terminar o ensino médio e fazer a faculdade no meu próprio país. Porém, a paixão pelo exterior e a língua inglesa ainda permanecem, junto ao desejo de morar fora e conhecer novas culturas, o qual ainda é bastante vivo. E atualmente, mais maduro e mais ciente dos meus planos para o futuro, faria de tudo para ter esse sonho realizado. O que me faltou antes e creio do fundo do meu coração que não faltará mais é o foco total, necessário nesse objetivo meu, o qual uma parte foi reprimida e já se foi.

 

Escrito pelo Cria de Madrid

sexta-feira, 23 de setembro de 2022



O trauma não usa boné vermelho.


Você morrerá sozinho. Você morrerá sozinho. Esse é meu destino, afinal.

Ficar sozinho pelo resto da vida.

E não sou eu quem faço questão de lembrar desse detalhe. É aquela que me persegue.

Não foi nem um pouco fácil crescer ouvindo que sou um tolo, falho, inútil. Que morrerei

sozinho, sem ninguém.

Por conta disso, carreguei um monstro comigo. Com seu jeito familiar, em força de

vapor, um corpo transparente, preto, escuro como a morte. Ele me aterroriza, me

persegue, faz o pior de mim nas piores situações. Faz questão de dar boas risadas a

cada mísero erro que cometo, e alertar o quanto não sou capaz.

Mas eu posso mostrar que sou mais forte que isso, não posso? Mostrar quem eu tenho

ao meu lado, apesar de brigas e inseguranças.

Que mesmo não conseguindo fazer tudo que posso, faço tudo o que posso fazer; que

aprendo com erros e busco estar sempre melhorando.

Isso pode me incomodar ainda por um longo tempo da minha vida – até mesmo pelo

resto dela –, mas vai ter uma hora que terei de bater de frente e enfrentar meu monstro.

Deixar bem claro para ele que eu não vou morrer sozinho. Nem que seja com ele ao

meu lado.

Pela primeira vez, o garoto do boné vermelho.

 O que fiz de errado? O problema estava em mim? Perguntas sem respostas e que agonizam a mente repentinamente. Nem eu ou você estávamos bem, mas você foi embora sem despedida. Semanas, meses e no mais um ano. Noites perdidas pensando no que poderia ter acontecido. Agora, você voltou, trouxe consigo um mar de memórias e sensações, felicidade, alívio, nostalgia, mas também haviam incertezas e medos. Medo do abandono e nunca mais ouvir notícias suas. Medo de perceber que nada será como antes. Promessas e reconciliações são feitas. Talvez o tempo tenha sido necessário para nós, afinal de contas. Dizem que o mesmo é capaz de curar certas feridas profundas. Talvez tenham razão, também. Espero que tanto ele quanto a vida possam ser generosos daqui em diante.

Autoria de Beca Rodrigues.

Traumatismo Freudiano



Diagnóstico tardio, sintomas sempre adiantados. Chego tarde ao pronto-socorro, prontamente atrasando sua prontidão. Não por descaso ou negligência, que fique claro. A dor é presença imponente que não se deixa calar; chega e se instala. Sem querer saber se há espaço, retira o que for para se fazer caber (e faz, invariavelmente). Mas como e de onde ela veio? Eu mesma não vi chegar, quando vi já estava, por isso o atraso. Uma chegada discreta para uma presença insistente. Onde está a fratura que justifica a dor? Cheguei a jurar que era parte inerente de mim.

Benditas as perguntas que me remeteram de volta ao acidente: o trauma, a origem. O evento solene que arromba a porta e introduz a dor, sem anúncio e sem data marcada. Confirmei presença mesmo sem saber, a participação foi compulsória. Benditas mesmo as interrogações que interrompem o vicioso ciclo da ignorância! Recordo o acidente, reconstituo mentalmente o evento traumático. Relembrei o medo com detalhes; enxerguei, só ali, os contornos da minha vulnerabilidade. Num instante tanto se explicou… a memória redescoberta trouxe consigo muitas respostas. Pretérito defeito que equivocadamente tentei diminuir para conseguir carregar pelo caminho. Carecia de opções, afinal de contas. Foram muitos os malabarismos para tentar caber, maculada pela cobrança cruel e utópica de resiliência. A fama da expressão pode ser recente, mas a ideia falaciosa é antiga, garanto, e já vinha produzindo muitos estragos. A forma original nunca mais se recobra. Precisei deformar mais para entender. Fratura finalmente exposta, imposta pela dor do acidente. Cheguei, por último, aos primeiros socorros.

Estrela Maria.

 Cresci sufocado, pressionado e sem ao menos perceber quem era você. Me culpei pelo que você acreditava ser um erro, e adivinha não é um erro pra mim.

    Essas expectativas, dizer que eu preciso ser o melhor e mentir que sou não é pro meu bem, é pro seu ego. Você tirou tudo de mim e exclamou que foi você quem deu. Você não me deu, eu vivi minha própria vida, lutei pelas minhas conquistas, nós não chegamos juntos. 
     Só dividimos traumas que você pôs sobre mim. Desculpa, mas não somos uma família e muito menos um só. 
     Eu pensei que eu fosse um narcisista egocêntrico e agora sei que não sou, você diz que mudei "você era melhor quando criança, mais feliz, mais simpático", eu era só uma criança e não sabia o que estava acontecendo e agora eu cresci e entendo. Dói dizer, mas minha vida é mais difícil por estar com você.


Escrito por Carol

 Futebol e o menino


Ontem, ouvi choros e gritos dizendo que não gostava de futebol, que não suportava qualquer coisa relacionada ao esporte. Lembro de alguns momentos do menino se negando a acompanhar futebol. Indo em direção ao passado, consigo ver a criança parada no meio da quadra de futsal na esperança de que alguém passasse a bola para ele. Os garotos correm, fazendo jogadas entre si e o menino permanece ali, livre, levantando um dos braços, esperando participar do jogo. 

O pequeno sai aborrecido de quadra, em prantos, questionando ao ar o porquê de nenhuma das outras crianças quererem passar a bola para ele.


Meses correm e a mesma situação ocorre rotineiramente. 

O time é chamado para participar de um campeonato e todos os meninos são convocadas para jogá-lo, menos ele.

Enfurecido com toda a situação, ele promete a si que nunca mais se envolveria com futebol.


Anos se passam e após todo esse tempo se mantando relutante sobre suas convicções,o menino cede a um dos milhares de súplicas de sua mãe para que ele desse mais uma chance para o esporte, em outro clube. 

Logo no primeiro dia de treino, em um novo ambiente, foi encaminhado a psicóloga para tentar contar suas questões. A mãe explica a profissional os motivos que desencadearam essa percepção deturpada sobre o esporte coletivo. A partir desse momento, inicia-se um longo processo de um trauma.


Esse menino é meu irmão, e ele é uma criança autista. 

A inclusão é uma luta diária. Mesmo com as suas limitações, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), têm de serem inseridos e ocuparem todos os espaços que pessoas neurotípicas estão, principalmente dentro de qualquer esporte. Sem serem rebaixadas ou desqualificadas, serem resumidas a sua neurodivergência. 


O esporte é pra todes.



Autoria de Steff