Nascer, crescer, reprimir e morrer. Concluí ser esse o ciclo da vida. Repressão é panela velha, desde muito cedo cozinha vedada nossos desejos vedados. Em mim, as maiores repressões sempre impuseram o silêncio. Silencio a força estranha que há em mim, tamanha é a força oposta que me reprime. Imensa e intangível, ataca pontualmente e me cala a voz. Medo, talvez o mais primitivo de todos os instintos. Medo da exposição por medo da rejeição, por proteção busco um lugar seguro. Fardo pesado demais, a pressão da repressão provoca o acúmulo, condensa os quereres. Surge inevitavelmente a sensação de explosão iminente. Urgente! Preciso encontrar o escape! Escapo, então, da realidade.
Na fantasia me visto de mim por inteira. Me acho, me vejo, me ouço, me acato. Transformo meu ar em som, minha angústia em notas, meu desejo em timbres. Deixo sair a essência de mim e isso me acalma a alma. Me sinto mais perto de Deus porque me sinto mais perto de mim, essência divina. Não tenho medo dos julgamentos próprios ou alheios (estes primeiros são sempre os mais cruéis). Solto a voz, meu instrumento de sopro e de vida. Saio leve da fantasia, deixei lá os insumos dos meus acúmulos. Fui quem sou e quem quero ser. Até logo.
Estrela Maria.
Brilhante o trocadilho que você utilizou relacionado ao ato de cozinhar os nosso desejos, assim, os reprimindo... muito bomm.
ResponderExcluirAdorei!! Me identifiquei, muito interessante a crônica. A vontade de escapar é um tema universal!!
ResponderExcluirGastou a onda na analogia
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