sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 Eu nasci e ele já estava lá. Uma imensa bola de pelo, que tinha nome e aparência de

valentão. Porém, Bradock não passava de uma criança presa no corpo de um cachorro.

Acho que já nasci amando aquela enorme criatura. Também acho que ele nasceu com a

vocação de me amar imensuravelmente, talvez meu “anjo da guarda”. Incontáveis as

vezes que me fez sorrir sem falar uma palavra. As vezes que me transmitiu paz e

segurança. Com o passar dos anos, ele foi meu pai; irmão e melhor amigo. E lá estava

meu melhor amigo. Seus pelos pretos e marrons perderam a batalha contra os pelos

brancos. Sua energia infinita, de perseguir o Sol enquanto se põe, experimentou, pela

primeira vez, o gostinho da finitude. Logo você, que sempre me colocou nas alturas, me

derrubaria do precipício. Eu cresci e, dessa vez, ele não estava mais lá.

Autoria de Dirceu da Cruz e Sousa

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