Todo dia a mesma rotina batida recomeça. Me levanto, faço um só café, tosto uma só torrada, tudo tão individual e egoísta. No caminho para o trabalho, na mesma rua vazia de sempre, noto uma multidão incomum. Ao aproximar-me, me deparo com viaturas policiais e um corpo no chão, todos se aproximando como abutres atrás de carniça, tudo por uma fuga do cotidiano. Atenta às conversas alheias, como de costume, ouço uma breve explicação do policial à uma moradora curiosa:
- Mas foi suicídio, senhor?
- Foi sim, se jogou deste prédio comercial onde trabalhava.
- E quem é o sujeito?
- Ninguém sabe, não era conhecido no trabalho.
Como não era conhecido? Um ambiente em que o homem passava mais tempo do que com sua própria família, mas mesmo assim passava despercebido. Indignada, segui para cumprir as mesmas obrigações que levaram o sujeito à desistir de sua própria vida. Noto uma casa de repouso que nunca havia visto, apesar de passar por ela todos os dias, era tudo tão triste, cores depressivas e iluminação precária apagavam o local dos olhos do pedestre. Observando tudo por uma janela, havia uma senhora. Ela tinha o olhar de um pássaro preso a anos em uma gaiola, um olhar desesperançoso, triste e solitário. Essa cena não saiu de mim pelo resto do dia, repentinamente, toda a solidão que estava sentindo pareceu tão medíocre comparada com a que eu sentirei algum dia, todos que já me desprezaram pareciam tão pequenos perto das tantas pessoas ruins nesse mundo. Um conforto paradoxal.
Me impressiona diariamente como as pessoas vivem cada vez mais por si e para si, como os problemas mundiais parecem alheios e os nossos problemas pessoais parecem colossais, como o término de um namoro incomoda mais que o aquecimento global. Se desesperam com as supostas teorias de fins do mundo que surgem anualmente, mas quando aprendem os reais motivos que estão acabando com o mesmo e as devidas atitudes individuais para impedir isso, viram as costas e fingem incompetência, tudo pelo conforto de deixar a responsabilidade para o outro. A espécie do egocentrismo que se deprecia com a solidão que ela própria instala.
Por Eleanor Rigby
Nenhum comentário:
Postar um comentário