Das dores que eu preciso esquecer.

Um tema que para muitos pode ser libertador poder contar, para mim é cheio de receio e medos, de não saber lidar com a verdade e de não saber lidar com o olhar de outros sobre mim. Porque todas as dores que eu vivi podem deixar de existir se eu não lembrar.

 Uma criança sem amigos, suporte, fragilizada e sem poder de voz não conseguiria fazer nada contra você naquele dia que enquanto dormia fui acordada por coisas que não estavam no meu domínio de protestar e pedir ajuda, eu estava paralisada e isso me assumiu, você me assombrou com sua autoridade e eu não sabia mais quem você era. O ano de 2017 foi o meu desespero e até hoje as vezes não quero mais ser eu e apenas me libertar.

  Seu nome que é lembrado em família como uma saudade de uma pessoa boa para mim sempre vai ser uma lembrança de tortura, e que quando eu chorei quando você se foi, não foi de tristeza e sim um grande alívio mas mesmo assim a angústia de conviver sabendo que você existiu é o que me dói, não conseguir contar me prende e ter sua memória vivida me traumatiza. Porque enquanto eu fui vítima você continua sendo visto como bom depois de anos.

 Então, se eu apenas esquecer, vai acabar? Eu todo dia espero que sim, então é mais fácil viver sem questionar e apenas existir normalmente. Conviver sabendo que eu não fiz nada até agora, até esse momento em que eu escrevo isso, me faz remorso da minha própria pessoa. Mas é engraçado o fato da gente incentivar tanto e mostrar a realidade ao mesmo tempo que muitos de nós estamos parados, e eu quero muito mudar essa realidade, só não consigo.

— Jo March.