Espelho, Espelho Meu, Quem Então Sou Eu?

Houveram vezes que eu me olhei no espelho e não me reconheci. Com essa primeira linha, você, leitor, talvez já esteja imaginando do que o meu texto possa se tratar, porém te afirmo de antemão: não, o meu trauma não é sobre perda de valores, isto é, não é sobre escolhas erradas que eu tomei ao longo da minha vida, que fizeram com que a cada dia menos eu enxergasse a a minha própria imagem no espelho. Só que como qualquer ser humano no planeta terra, eu também fiz escolhas erradas, é claro.

Desejei inúmeras vezes não sentir.

Para ser mais clara, desejei não possuir sentimentos para não ter que passar pela dor do sofrimento. E de repente, sem que eu ao menos fosse percebendo as mudanças ocorrerem, infelizmente o meu desejo foi atendido.

Descobri da pior forma que não sentir é a pior maneira de sentir. Porque quando pedimos em voz alta para não sofrermos mais, apenas esperamos que seja aqueles sentimentos angustiantes que vá embora como, por exemplo, a raiva, a tristeza e o medo. Comigo, no entanto, tudo pareceu partir. Eu já não conseguia mais demonstrar o amor ao abraçar os meus pais, expressar a alegria ao rir de alguma piada dos meus amigos ou ter sequer a empatia pelo próximo antes de tomar alguma atitude que fosse envolvê-lo.

Eu sabia que tinha algo errado em minhas ações, não porque eu, zhoongli, sentia — afinal, eu estava mais para uma cápsula vazia ou para uma morta-viva —, mas, sim, porque as minhas memórias ainda me permitiam lembrar que não era dessa maneira que eu costumava me portar diante das pessoas.

Hoje, olhando para tudo que aconteceu, não sei dizer qual foi a parte mais traumática da minha vida. Se foi ter perco os meus sentimentos ou me lembrar de quem eu era naquela época e, hoje em dia, não ser mais aquela pessoa. 

No entanto, posso afirmar que aprendi algo de valioso com a minha tragédia: que sentimentos são feitos para serem sentidos, jamais desfeitos. Torço para que eu me recupere um dia.

Por Zhoongli.