Mugiu o Sol sob o celeiro de madeira. O homem da fazenda abria um olho após o outro,
enquanto sacudia o final de seu sonho, onde os vultos de cada janela de sua Casa Grande
chamavam-o para apagar os lampiões das ruas do bairro. Apagaram-se foram, porém, os
gemidos noturnos, porque agora a luz da manhã já batia no outro lado do quarto, onde os
bicos de onze botas apertavam caprichosamente o rodapé. Aos joelhos do sujeito,
descobertos das meias de escorbuto, uma mulher escancarada, carregando a dureza da
vida nos cílios, deduzia a dor do que sonhava. Traduzia os anos de fábrica apenas com sua
boca de graxa, suas costelas raladas e seu crânio murcho. Flutuava sob o lençol argelino.
Dançava a embriaguez do tango alheio. Gozava de eloquência e patriotismo. E o homem lá,
na mira do fantasma, sendo engolido pelos olhos e ouvidos, e esfarelado pela angústia de
ainda estar vivo.
Por Drauzio Foi Ao Mercado
Concordo, viver dói.
ResponderExcluirViver é uma luta eterna
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