sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 Mugiu o Sol sob o celeiro de madeira. O homem da fazenda abria um olho após o outro,

enquanto sacudia o final de seu sonho, onde os vultos de cada janela de sua Casa Grande

chamavam-o para apagar os lampiões das ruas do bairro. Apagaram-se foram, porém, os

gemidos noturnos, porque agora a luz da manhã já batia no outro lado do quarto, onde os

bicos de onze botas apertavam caprichosamente o rodapé. Aos joelhos do sujeito,

descobertos das meias de escorbuto, uma mulher escancarada, carregando a dureza da

vida nos cílios, deduzia a dor do que sonhava. Traduzia os anos de fábrica apenas com sua

boca de graxa, suas costelas raladas e seu crânio murcho. Flutuava sob o lençol argelino.

Dançava a embriaguez do tango alheio. Gozava de eloquência e patriotismo. E o homem lá,

na mira do fantasma, sendo engolido pelos olhos e ouvidos, e esfarelado pela angústia de

ainda estar vivo.

Por Drauzio Foi Ao Mercado

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