sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Vontade que arde

     Desejar não é uma coisa bonita. Querer e não poder ter dói e é incômodo. Desejar é pecado e realizar é perder o controle. Desejo é controle mental e controle de corpos. Se não houvessem desejos, haveria liberdade. Mas, a liberdade não é bem-vista. De que adianta uma sociedade que ninguém tem poder? De que adianta uma sociedade capaz de se saciar e que, por isso, é incontrolável? Sendo assim, você deseja e peca. Eu também desejo e peco. Eu sinto como se houvesse uma voz sem dono gritando no pé do meu ouvido que preciso disso para viver. Todavia, o que eu desejo não tem dono e nem nome. Não é classificável e muito menos específico. Meu desejo é a vontade que me devora. 

    Eu me derramo em mim e me sufoco com minha própria respiração. Eu não sinto consciência do meu corpo e nem do corpo alheio. Não consigo, é libertinagem. Mesmo assim, eu quero. Eu clamo pelo toque e pelo calor. Quero sentir e quero derreter. Quero amar e quero odiar. Eu desejo tanto que desejar perde o sentido. 

    Imagino como seria poder amar e odiar com liberdade. Poderia derramar minha individualidade e essência no mínimo contato. Eu seria amoral. Portanto, me limito ao desejo. Apago minhas vontades e entrego ao subconsciente. 

    Meu desejo se projeta como uma fome terrível. Tenho fome de entender, de odiar, de amar, de viver e de me entregar. Quero aceitar que desejo e compreender minha essência. Eu quero arder por dentro e quero sentir o fogo do inferno, aquele reservado aos pecadores, na minha pele.

                                                                                                                              Por Vênus.

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