sexta-feira, 30 de setembro de 2022

 Durante os tempos de colegial, testemunhei todas as minhas amigas falando sobre os inúmeros meninos por quem elas tinham paixonites. Nas rodas de conversa, comentários como "Ele é tão bonito!” eram indispensáveis. Me sentia muito estranha por não reagir da mesma maneira. Quer dizer, não é assim que tem que ser? Meninas precisam se atrair por meninos.

Na virada da adolescência, finalmente conheci um menino que particularmente achava bonito e que, além de tudo, era simpático. Inconscientemente, pensei: vai ser ele. Passei o ano inteiro tentando ter um pouco de sua atenção, mas logo que saí do colégio, fui esquecendo de sua existência. Tempos mais tarde, descubro que o mesmo apoiou certo candidato na corrida à presidência. É, talvez ele não fosse mais tão legal assim.
Acredito que esses acontecimentos sejam fundamentais para compreender essa história e, francamente, compreendê-la também é um dos meus maiores desejos. Mas não é o foco, pelo menos não ainda. O lance é: descobri que (também) gosto de meninas. Que coisa, não é? Ao contrário do que se esperam, não fiquei desesperada quando aconteceu, na verdade foi a melhor sensação do mundo. Qual é o grande problema afinal? 
Recentemente, um cara passou a demonstrar certo interesse romântico em mim e, então, uma série de pensamentos acumulados do subconsciente vieram à tona. O porquê de eu não estar correspondendo de forma parecida ou se seria normal apenas querer correr de tudo isso. De longe não era a primeira vez que eu tinha essa sensação, mas nunca havia parado para refletir muito sobre. Desde então, minha mente tem experimentado um verdadeiro inferno a respeito da minha sexualidade, a qual eu acreditava estar confortável tempos atrás. 
É difícil pensar que, durante muito tempo, talvez eu estivesse mentindo para mim mesma, e que assumindo uma nova identidade, ficarei na sentença de novas batalhas para o resto da vida. E ainda confesso, enquanto escrevo esse texto, não tenho certeza de absolutamente nada. Mas o que eu posso dizer para o momento é que espero um dia vivenciar a liberdade. Ser livre e, principalmente, poder entender de verdade quem eu sou, sem me preocupar com julgamentos internos ou externos. 

Autoria de Beca Rodrigues.

2 comentários:

  1. Gostei muita da crônica e espero que você consiga se preocupar menos com os julgamentos.

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  2. o que importa é sua felicidade e ter paz com você mesmo, não se importe com o julgamento dos outro nunca

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