sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A Comédia é Divina?

 

A proposição dessa crônica me fez pensar e repensar como escrevê-la. Afinal: “o que mais me incomoda?”, pensei. Cheguei à conclusão de que não há gradiente entre mais e menos nos incômodos que percebo ter. 

 

Entendi, nesses dias, que, para mim, incômodo está atrelado ao momento, vivências e condições que autopercebo. Entretanto, uma característica me chamou atenção em vários exemplos de incômodos – e que tratarei aqui como o tema da minha crônica – que é a falta de condicionamento.

 

Nota-se: dos contos popularizados pela Disney que dualizam facetas como bem e mal às formas de fazer política que centram um debate de Nós contra Eles, tira-se o maniqueísmo. O espectro que relativiza as coisas, tal qual deveras ser no mundo contemporâneo, é totalmente extinto numa lógica irracional de dicotomizar a vida. 

 

Outro exemplo: o amor. É comum lermos que “fulano de tal tem amor incondicional”. Algo que não condiciona é algo entorpecido. Minha visão, óbvio. Mas, meu incômodo também. Para mim, é difícil enxergar que ao se amar, se exime as pessoas de seus erros e defeitos.

 

E, apesar da minha inspiração, não trilhei um caminho tal qual do Inferno ao Paraíso. Essa escrita livre me faz pensar: apago tudo e recomeço? Não vai ser o caso. Meu incômodo, hoje, vai continuar sendo o não condicionamento, a não relativização.

 

Talvez, uma maior relativização dos acontecimentos da vida traria um pouco mais de paz e democracia. Diminuiria debates como “o que é melhor” ou “o que é pior”, enxergando-se apenas que há diferenças. 

 

Ah! Aqui é necessário que faça uma observação: não significa, para mim, que não exista piores e melhores. Há coisas óbvias na vida, me parece, e que caem no campo da necessidade de condicionamento também. 

 

Exemplo: liberdade acima de tudo, como de um streamer dizer em um podcast com milhões de visualizações que deveria haver um partido nazista no Brasil. Até a liberdade deve ser condicionada e relativizada. Afinal, ela acabaria, dessa forma que é defendida como pétrea, se tornando um paradoxo. Explico: como é proibido proibir? Já estaria havendo censura de liberdade, entende?

 

E, apesar desses exemplos e argumentos não estarem em forma de cânticos divididos por trilogias, penso como esse incômodo meu seria percebido em outro momento, vivências e condições... Ainda, penso se seria o incômodo do qual falaria caso pudesse escrever após as 23:59 de quinta-feira. Talvez sim, talvez não. Quem sabe?

 

Afinal, é uma comédia, não tragédia. Deveria ter um final feliz.

 

Por Dante Alighieri II

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