Diagnóstico tardio, sintomas sempre adiantados. Chego tarde ao pronto-socorro, prontamente atrasando sua prontidão. Não por descaso ou negligência, que fique claro. A dor é presença imponente que não se deixa calar; chega e se instala. Sem querer saber se há espaço, retira o que for para se fazer caber (e faz, invariavelmente). Mas como e de onde ela veio? Eu mesma não vi chegar, quando vi já estava, por isso o atraso. Uma chegada discreta para uma presença insistente. Onde está a fratura que justifica a dor? Cheguei a jurar que era parte inerente de mim.
Benditas as perguntas que me remeteram de volta ao acidente: o trauma, a origem. O evento solene que arromba a porta e introduz a dor, sem anúncio e sem data marcada. Confirmei presença mesmo sem saber, a participação foi compulsória. Benditas mesmo as interrogações que interrompem o vicioso ciclo da ignorância! Recordo o acidente, reconstituo mentalmente o evento traumático. Relembrei o medo com detalhes; enxerguei, só ali, os contornos da minha vulnerabilidade. Num instante tanto se explicou… a memória redescoberta trouxe consigo muitas respostas. Pretérito defeito que equivocadamente tentei diminuir para conseguir carregar pelo caminho. Carecia de opções, afinal de contas. Foram muitos os malabarismos para tentar caber, maculada pela cobrança cruel e utópica de resiliência. A fama da expressão pode ser recente, mas a ideia falaciosa é antiga, garanto, e já vinha produzindo muitos estragos. A forma original nunca mais se recobra. Precisei deformar mais para entender. Fratura finalmente exposta, imposta pela dor do acidente. Cheguei, por último, aos primeiros socorros.
Estrela Maria.
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