Querido trauma,
Há quanto tempo não nos falamos. Confesso que tentei enterrá-lo no mais profundo lugar da
minha mente, mas eu falhei. Quando chegou - há quatro anos atrás - eu era tão ingênua e
imatura, que eu só fui me dar conta de sua existência um tempo depois, e, mesmo quando
notei, permaneci ao lado de quem o causou.
Não, você não surgiu do nada, inclusive, você tem nome, endereço e até mesmo um
cachorrinho. Você é alguém. Um alguém que soube muito bem fazer mal para um outro
alguém. Esse alguém é um baita de um manipulador e um belo narcisista, além de não possuir
um pingo de empatia emocional. Ele era o retrato da instabilidade. Às vezes, agia de forma
carinhosa, e depois me
ignorava por dias. Às vezes, me abraçava, e cinco minutos depois estava sendo grosseiro. “Eu
gosto de você”, mas me chamava de alguma coisa ruim, “Eu tenho ciúmes de você com aquele
menino”, mas ficava falando do corpo de outras meninas - na minha frente.
Eu realmente não sei como não enxerguei os sinais, como eu não ouvi os meus amigos e,
principalmente, como eu fiquei quase dois anos vivendo isso. E foi assim que surgiram as
inseguranças. “ Será que o problema sou eu?”, “ Eu não devo estar demonstrando o quanto eu
gosto dele”, “ Ele consegue alguém mais interessante do que eu”. Esses eram alguns dos
meus pensamentos, eu me sentia incapaz de ser suficiente para ele, e o cara só alimentava
esse sentimento.Quando esse inferno acabou e eu finalmente me dei conta do problema, eu
fiquei com medo de me apaixonar por outro alguém, eu tinha pavor de vivenciar algo parecido -
e ainda tenho.
Eu acho que você não me abandonará nem tão cedo, afinal eu ainda lido com certas
inseguranças, mas eu não alimentarei elas como o meu eu de 15 anos fazia, porque eu quero
que vocês morram. Eu só espero que essas vulnerabilidades sumam da minha vida, mas
enquanto isso não acontece eu lido com elas até o dia em que eu poderei dizer adeus a esse
trauma.
Por: Iris Granson
Acho que todos já passamos por isso alguma vez, ou de alguma forma ainda estamos.
ResponderExcluirSe despedir de um trauma é realmente difícil, eu diria que dependendo do trauma chega até ser improvável.
ResponderExcluirBrilhante a sua utilização de metáforas em alguns trechos para reafirmar à sua ideia, texto com um ótimo conteúdo.
ResponderExcluirEspero que esses traumas virem somente lembranças
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