sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 Querido trauma,

Há quanto tempo não nos falamos. Confesso que tentei enterrá-lo no mais profundo lugar da

minha mente, mas eu falhei. Quando chegou - há quatro anos atrás - eu era tão ingênua e

imatura, que eu só fui me dar conta de sua existência um tempo depois, e, mesmo quando

notei, permaneci ao lado de quem o causou.

Não, você não surgiu do nada, inclusive, você tem nome, endereço e até mesmo um

cachorrinho. Você é alguém. Um alguém que soube muito bem fazer mal para um outro

alguém. Esse alguém é um baita de um manipulador e um belo narcisista, além de não possuir

um pingo de empatia emocional. Ele era o retrato da instabilidade. Às vezes, agia de forma

carinhosa, e depois me

ignorava por dias. Às vezes, me abraçava, e cinco minutos depois estava sendo grosseiro. “Eu

gosto de você”, mas me chamava de alguma coisa ruim, “Eu tenho ciúmes de você com aquele

menino”, mas ficava falando do corpo de outras meninas - na minha frente.

Eu realmente não sei como não enxerguei os sinais, como eu não ouvi os meus amigos e,

principalmente, como eu fiquei quase dois anos vivendo isso. E foi assim que surgiram as

inseguranças. “ Será que o problema sou eu?”, “ Eu não devo estar demonstrando o quanto eu

gosto dele”, “ Ele consegue alguém mais interessante do que eu”. Esses eram alguns dos

meus pensamentos, eu me sentia incapaz de ser suficiente para ele, e o cara só alimentava

esse sentimento.Quando esse inferno acabou e eu finalmente me dei conta do problema, eu

fiquei com medo de me apaixonar por outro alguém, eu tinha pavor de vivenciar algo parecido -

e ainda tenho.

Eu acho que você não me abandonará nem tão cedo, afinal eu ainda lido com certas

inseguranças, mas eu não alimentarei elas como o meu eu de 15 anos fazia, porque eu quero

que vocês morram. Eu só espero que essas vulnerabilidades sumam da minha vida, mas

enquanto isso não acontece eu lido com elas até o dia em que eu poderei dizer adeus a esse

trauma.

Por: Iris Granson

4 comentários:

  1. Acho que todos já passamos por isso alguma vez, ou de alguma forma ainda estamos.

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  2. Se despedir de um trauma é realmente difícil, eu diria que dependendo do trauma chega até ser improvável.

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  3. Brilhante a sua utilização de metáforas em alguns trechos para reafirmar à sua ideia, texto com um ótimo conteúdo.

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  4. Espero que esses traumas virem somente lembranças

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