quinta-feira, 24 de junho de 2021

Memórias póstumas de um a-mor...

22/10/2010, o melhor dia da minha vida. Depois de 3 maravilhosos e até que conturbados anos, casamos. Eu me senti viva! Era o meu sonho de princesa, Rony não fazia o tipo príncipe fantasioso daqueles filmes de animação, era rude, gostava de beber em bares com seus amigos mas tinha seu jeito de demonstrar amor. Ele sempre me levava e buscava no serviço, sempre mandava mensagem querendo saber aonde eu estava, preocupado comigo e de acontecer alguma coisa. Falava para eu não demorar muito quando eu saía com minhas amigas e que me encontraria lá para eu não voltar sozinha, ele sempre foi meu herói, meu protetor.  


Eu era feliz em minha profissão, mas abdiquei da função de administradora de uma grande empresa para poder construir uma família ao lado de Rony, afinal era o sonho dele, e ele sempre dizia que eu nunca mais precisaria trabalhar e que cuidaria de tudo pelo nosso bem.


Tivemos 2 filhos lindíssimos, Pedro e Roberto. Durante meu período de repouso, Rony não me deixou faltar nada, mas se sentia muito pressionado com toda essa situação e problemas no escritório em que trabalhava e acabou se prendendo mais nas bebidas. Chegava em casa bêbado, falando de uma forma grotesca, querendo ter relações sexuais comigo, e ia dormir logo após. Ia dormir me sentindo um objeto. Mas na manhã seguinte ele sempre fazia o café, comprava lindas rosas, que estavam no dia do nosso casamento, acompanhadas de uma declaração amorosa. Pronto, eu me sentia amada de novo e com um jardim cheio de borboletas no estômago.


Até que numa noite chuvosa e de intensos relâmpagos ele chegou mais tarde que o comum em casa, tentava ligar para ele mas caía na caixa postal. Ao abrir a porta fui saber o porquê de chegar tão tarde, aonde estava e com quem estava, demonstrando a ele, a mesma preocupação que ele tinha por mim. Ele havia bebido muito, sentia-se de longe o cheiro impregnado nas roupas –ou o que sobrou delas- em seu corpo. Ele me bateu no rosto, mandou eu calar a boca e subir para o quarto porque queria relaxar. As crianças dormiam. Eu me senti humilhada, disse que pela manhã iria para casa de meus pa... Outro tapa no rosto antes que eu pudesse terminar a frase. Disse-me que não iria a lugar nenhum. Assustada e chorando, subi as escadas correndo, no meio dela, ele me puxou pelos braços, me fazendo escorregar e bater a cabeça nos degraus. Adormeci, mas não como a princesa Bela.

  

....Memórias póstumas de um a mor-te. 

 

                                                  -Apolo.gia

6 comentários:

  1. Caramba, Apolo.gia, seu texto me arrepiou. Que forte. É triste pensar que essa é a realidade de muitos.

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  2. Apolo.gia, um final brusco para a crônica, exatamente igual aos casos que foi relatado no texto. Parabéns pelo texto.

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  3. Nossa, que texto emocionante! Senti medo a todo instante, já prevendo o final... O mais triste é pensar que são histórias reais, com pessoas reais.

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  4. Fiquei arrepiada com seu texto. Acho que você demonstrou bem como o relacionamento abusivo é difícil de ser percebido por quem o vive. Muito bom!!

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  5. Triste e emocionante, é como se pudesse sentir o tom de cada acontecimento indo do bom ao pior.

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