Na noite de uma terça-feira, Ciano segue sua vida no modo robótico da rotina. Os poucos
amigos que tem seguem suas vidas, enquanto ele acredita que apodrece no veneno que
bebeu. Almejando que no amanhã a choradeira acabe, esperando que a nuvem escura que
paira sob sua cabeça o largue. Enquanto vive um presente de lastimas o futuro parece ser
distante. Ciano se pergunta se amarrou sozinho essas correntes em seus pés. Se afogando em
suas próprias lágrimas, dentro da caixa escura de sua mente que se comprime cada vez mais,
tem o seu suco tirado e seus ossos quebrados. Coitado, perdeu a euforia que carregava no
peito, o carnaval, o amor e por fim se perdeu. Se questiona em qual estação ficou, pergunta a
moça da bilheteria que horas passa o trem de volta, atravessando corpos que carregam seus
próprios fardos, se vê perdido.
A apatia o invade como um sopro das nuvens cinzas de uma tarde de outono, o fazendo
acreditar que o misto de emoções que sente tem como resultado o nada.
Como as chuvas de outono que surgem de repente, vem a raiva de não conseguir controlar
suas tempestades internas.
Ciano busca a cura, para se reencontrar, mas é recebido com raios que adentram o fundo de
suas cicatrizes, as abrindo e infeccionando.
Enquanto seus vizinhos faziam conexões entre si, ele se via perdido como um naufrago em
alguma ilha deserta qualquer. Poderia ele estar se colocando nesse lugar de vítima, mas como
sair de lá? No poço que pulou a única luz que se via era a da lua. No fundo só queria um
abraço, que fosse apertado ao ponto de juntar outra vez sua alma ao corpo, sua mente parecia
embriagada por alguma droga forte. Enquanto se encolhia no fundo de si, solfejava uma nota
de lá menor.
Pergunta-se Ciano se escolheu o caminho certo, tirando conclusões no primeiro dia, se
precipitando como sempre.
Na manhã ensolarada de uma quarta-feira, Ciano conseguiu ver a esperança, que carregava a
cor verde esmeralda, ela o guiou ao caminho da luz. Saiu do poço que havia se jogado e
repreendeu a melancolia da noite passada, foi a estação e pegou o trem de volta, e se
encontrou. E nesse dia aprendeu que assim como as folhas secas que caem das árvores e
nascem outra vez, dando lugar a lindas flores e frutos, descobriu que precisava se perder para
florescer, percebeu também que seu choro não durou para sempre, sorriu, admirou seu
reflexo na beira de um rio, e agora despido das mazelas e edificado, voltou a trilhar a estrada
de incertezas chamada vida, agora solfejando notas de sol maior.
George Amarelo
As folhas possuem muitos tons, assim como o ciano
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Excluir"E nesse dia aprendeu que assim como as folhas secas que caem das árvores e
ResponderExcluirnascem outra vez, dando lugar a lindas flores e frutos, descobriu que precisava se perder para
florescer."
Caramba, George, que texto lindo. Esse trecho, em especial, me levou a uma espiral de reflexões. Às vezes, precisamos nos perder para nos (re)encontrar. Parabéns pela escrita sensacional.
Achei o seu texto incrível! Há sempre uma chance de recomeçar, de renascer, assim como as folhas, muito bom!
ResponderExcluirGeorge, seu texto é incrível. As imagens que você criou são lindas, cheias de sensibilidade. Tantas reflexões importantes que podemos tirar delas. Acho que todos precisam ter um pouco de Ciano dentro de si. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirGeorge, que texto lindo, o último parágrafo então foi o meu preferido. Que bom que sempre podemos recomeçar né e fico feliz que tenha entendido isso, às vezes e difícil tentar de novo, mas nunca é tarde demais. Parabéns pela reflexão e pelo texto.
ResponderExcluirEu estou sem palavras pra esse texto. Incrível do início ao fim e fui obrigada a ler 2x só pela genialidade. Parabéns, George.
ResponderExcluirOi, George. Eu acho que Ciano não deveria ficar muito azul, o outono e a mudança são coisas boas! Boas analogias no texto, parabéns.
ResponderExcluirBravo!! Esse último parágrafo ai, magnífico.
ResponderExcluirQue texto! Amei demais, principalmente o final.
ResponderExcluirQue texto rico de palavras bonitas!! No outono, as folhas e flores caem, e isso as vezes pode ser triste. Mas logo depois temos a primavera, quando novas e mais bonitas flores renascem. Espere sempre pela sua primavera! Abraço!
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