Sou filha de mãe negra e pai branco de olho azul.
Racismo nunca foi uma questão para mim quando era criança, pois bem, eu, menina
branca “padrão” (Afinal, o que é padrão num Brasil tão diversificado?) nunca parei
para pensar que existia gente que sofria pela cor de pele. Mas tinha, inclusive dentro
da minha própria casa e eu não sabia e acho que nem minha mãe sabia direito.
Foram inúmeros momentos da minha infância que entrava numa loja com minha mãe
e recebia um tratamento diferente de quando estava com meu pai, algo que tempo
depois eu soube que é muito comum para negros e principalmente para os que vivem
em locais majoritariamente de brancos. Foi quando certa vez vi uma reportagem sobre
esse assunto e questionei a minha mãe.
Ela, por não se informar tanto sobre os movimentos de luta dos pretos e por falta de
conhecimento não percebeu que o racismo era o que determinava certas ações que a
afetavam e procurou entender mais, se reconhecer dentro de sua identidade, passou
refletir diariamente sobre o assunto e nunca mais tentou relativizou. Foi um processo
de autoconhecimento, identificação para ela e de descobertas sobre a vida dela para
mim.
Minha mãe me contou que na sua infância ao ir numa apresentação de teatro de uma
amiga que fazia parte de uma companhia de classe media alta foi questionada
banheiro se era a empregada dela ao verem as duas juntas. Pasme, uma criança
denominou outra criança de empregada por ser a única preta no ambiente. Esse
processo de diferenciação e caracterização pela cor de pele é algo absurdo e
inaceitável.
Foram inúmeras as histórias, que anos depois, começaram fazer mais sentido na
percepção dela. Certa vez ela estava com meu irmão, que era um bebê branco e de
olhos azuis, passeando na praia e uma senhora perguntou se ela era babá dele.
São situações que apesar de nunca me afetarem, perduram na vida da minha mãe e de
milhares de brasileiros, é um estrutural e precisamos lutar para ser combatido todos
os dias. Até quando esses indivíduos vão se apropriar da dor dos outros para se
colocarem numa pseudo posição de superioridade? Essa ideia de autoafirmação é
tenebrosa, não faz sentido à diferença de cor servir para isso, não há essa
superioridade. Devemos ampliar todos os dias uma educação antirracista.
Evelyn Hugo
Concordo, Evelyn! O texto expõe bem essas verdades que nossa sociedade brasileira tenta esconder, verdades que não deveriam nem existir.
ResponderExcluirobs: acho que tem algumas palavras comidas no texto, por exemplo na parte "é um estrutural e precisamos lutar para ser combatido todos os dias."
Nossa, verdade!! Foi um erro na hora da digitação que passou batido. Obrigada por avisar.
ExcluirOII Evelyn, seu texto só mostra fatos reais, infelizmente vivemos em um pais extremamente racista que faz com que pessoas como a sua mãe passem por essas situações horrorosas e pessoas hipócritas que acham que só porque são brancas se acham superiores, babacas isso sim. Parabéns pelo texto <3
ResponderExcluirOi Evelyn, sinto muito que você e sua família tiveram que passar por isso. Fico triste também por não ser um caso isolado, pois já ouvi relatos iguais...
ResponderExcluirObrigada por dividir conosco, abraços!
Evelyn, eu sinto muito por tudo que sua família teve que passar em todos esses anos. Assim como você disse ali no texto, até quando vão usar a dor alheia pra se imporem como superiores? Tirando alguns probleminhas com palavras comidas, adorei a sua escrita.
ResponderExcluirFico mal que você e sua família tenham que ter passada por situações como essa, mas satisfeita que vocês conseguiram criar essa consciência, e espero que com elas se sentir um pouco melhor em relação a isso (Sei que são dores e tristezas que nunca passam). Seu relato me passou sentimento, e está bem dentro do tema!
ResponderExcluirEvelyn, seu texto causa revolta, exatamente como deve mesmo. Lembrei daquela frase, "em uma sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista."
ResponderExcluirObrigada a todos pelas palavras de conforto, espero que isso possa acabar algum dia para todos.
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