A multidão do carnaval é assustadora, toda aquela gente espremida em uma única avenida é
confusão na certa. Mas com um grupo de amigas, pensei que estaria segura para me divertir
normalmente. Pra mim, o perigo estava fora das ruas, em pessoas que não estavam ali com o
mesmo objetivo que eu, perigo pra mim era assalto e furto.
Chegando lá, tudo estava de acordo com a ocasião: gente bebendo, gente beijando, gente
sorrindo, inclusive eu. Mas momentos de alegria passam rápido. Em certo momento, sinto um
puxão no braço e, se não tivesse reagido rápido, minha boca teria encostado na dele. Pedi pra
me soltar e, depois de uns minutos de insistência, ele desistiu e saiu falando a clássica frase:
“Você nem é tão bonita”. Passamos pela mesma situação mais algumas (muitas) vezes e fomos
para outro bloco, que tinha uma fama de ser mais tranquilo...
Dessa vez foi um puxão de cabelo, falei pra desencostar, mas não adiantou. Felizmente, um
amigo estava passando na hora e falou pra me largar, só assim fui “liberada”. Meu dia já
estava arruinado, não estava mais feliz de estar ali, me sentia humilhada, arrasada.
Fiquei sozinha por dois minutos e o episódio se repetiu. Para fechar o dia, mais um puxão;
dessa vez pelo pescoço juntamente com uma mão boba. Falei pela milésima vez no dia: “Me
solta por favor”. Não soltou e ainda forçou um beijo, tentei de todas as maneiras sair dos seus
braços, mas não consegui. Achei melhor beijar, pra que aquele assédio não se transformasse
em agressão. Foi pior que medo, foi uma sensação de imensa impotência.
O nojo de mim mesma tomou conta, precisava urgentemente tirar aquelas roupas e tomar um
banho, talvez assim me livrasse dessa sensação de desgosto. Fizeram do meu corpo algo
público, fizeram com o que eu não tivesse poder sobre ele; como se o fato de eu ser mulher
anulasse minhas escolhas. Não vejo mulheres achando que controlam o corpo dos homens,
então não faz sentido eles pensarem o contrário, acharem que podem ter tudo, na hora que
quiserem. Fico me perguntando quem os ensinou assim, quem aprovou esse tipo de atitude.
Mas acho que essas indagações não incomodam o suficiente para serem respondidas.
Estagiária do Profeta Diário
na próxima, vá a blocos LGBT+. Melhor que passar pelo desgosto de se sentir oprimida por uma cultura de que homem tem que beijar várias em carnaval e a gente tem que aceitar. Não somos minoria em nenhum dos sentidos da palavra. Segundo o IBGE, 51,8% da população brasileira na faixa de 24/25 é de mulheres. Não somos minoria. Mulheres, uni-vos!
ResponderExcluirVerdade, Perua! Os blocos LGBTQIA+ são sempre os melhores, viu? Além das melhores músicas e fantasias mais criativas, o respeito é sem igual. Em sua maioria, o acolhimento e educação faz com que a gente consiga se divertir sem medo.
ExcluirSinto muito pelo o que aconteceu com você, não se sinta culpada, infelizmente muitos pais criam seus filhos homens de uma maneira em que eles se acham no direito de cometer essas atrocidades. Achei muito válida a dica da Perua.
ExcluirO carnaval tem tudo para ser uma época leve, um momento para curtir a vida, mas infelizmente existem essas pessoas nojentas. Desejo todo o mal para quem faz esse tipo de coisa. Não se sinta culpada por nada disso, a vida cobra.
ResponderExcluirPs: Caso isso se repita, mire no meio das pernas. É golpe fatal ;)
Fico triste que você tenha que ter passado por isso (mesmo que seja ficcional eu ainda fico triste por ser uma realidade). Espero que um dia todos possamos curtir sem ter medo de situações como essa. O texto está bem dentro do tema.
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