quinta-feira, 17 de junho de 2021

Sempre Alerta



Sofro de um medo constante de sair de casa antes mesmo de me trancarem, porém esse medo

não me impede de sair e nem me dá mais coragem, ele só existe então tento me munir de

todas as defesas para sair de casa, pois hoje em dia saímos sem saber se voltaremos.

Um professor me falou um dia que foi comprar frango assado na esquina de casa e quando

estava quase entrando na garagem um carro “fechou” ele e começou um tiroteio bem na porta

do seu prédio do bairro onde cresceu. Esse fato me fez refletir o quanto precisamos estar

sempre alerta nas ruas da vida e aproveitar ela, nunca saberemos quando um carro irá nos

parar e uma bala pode nos achar, esse receio constante é muito angustiante, às vezes, tenho

vontade de GRITAR, mas gritar o que?


Se o som das notícias ruins lucra mais que a segurança pública. Nos acostumamos a viver

assim, ou pelo menos fingimos que nada acontece, enquanto isso a cada 23 minutos um jovem

negro é assassinado no Brasil. Eu poderia narrar tantas histórias sobre toda essa violência,

mas não ia adiantar já que elas se repetem todos os dias a cada minuto, e nem percebemos que

automaticamente somos obrigados a estarmos sempre alerta, a fim de todo dia deitarmos a

cabeça no travesseiro, como tantos Joãos e Marias não conseguem.


Às vezes, só queria sair pelas ruas sem medo do que vão me levar, se levarem dinheiro é

lucro. A vida não é como um conto de fadas, ocasionalmente temos que matar as bruxas

dentro da casa de doces, para ter serotonina suficiente para seguir em frente, mas sempre

deixando no caminho ferramentas para que os próximos não necessitem ficar SEMPRE

ALERTA, por causa do descaso do governo e pelo nosso próprio descaso, pois vivemos

ignorando tudo que acontece a nossa volta. Até quando aceitaremos perder mais pessoas boas

para esse mundo tão cruel? Que o lema do escotismo (“Sempre Alerta”), não continue sendo o

do Brasil.


E você, para o que você está alerta? Será que é para o que realmente importa?


Sinceron@.com

12 comentários:

  1. "Se o som das notícias ruins lucra mais que a segurança pública. Nos acostumamos a viver

    assim, ou pelo menos fingimos que nada acontece, enquanto isso a cada 23 minutos um jovem

    negro é assassinado no Brasil." Sinceron@, que reflexão importante que você trouxe! Nesse país que o Estado tem alvos específicos, vivemos a política da morte e sair de casa sempre é uma incerteza, principalmente quando se é preto e pobre. Resistimos. Parabéns pelo texto.

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    1. Fico muito feliz que você gostou e infelizmente ainda hoje tenho que concordar com seu comentário, espero realmente que um dia isso mude.

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  2. Oi, Sinceron@. É realmente horrível, completamente cruel e angustiante. Eu realmente só consigo pensar: até quando? Não é justo. Seu texto é preciso (nos dois sentidos da palavra).

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    1. Verdade, até quanto? Que meu texto não seja mais preciso daqui a alguns anos.

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  3. Sinceron@, achei o seu texto e a reflexão nele incríveis!! Toda vez que eu saio de casa esses pensamentos me sobem a cabeça: "será que vai acontecer alguma coisa ruim comigo?", "será que eu deveria sair com essa roupa?", "será que eu devo levar isso comigo?", etc. É muito frustrante e revoltante ter que viver assim! E o pior é que quem deveria estar nos ajudando e garantindo a nossa segurança, não está fazendo isso.

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    1. Nem fala difícil mesmo, eu te entendo. Agradeço por ter gostado do texto

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  4. Sinceron@, que texto difícil e necessário. Você me fez pensar como os medos, por mais que existam, são diferentes uns dos outros. Meu medo de sair na rua nunca envolveu "um policial pode atirar em mim por nada", assim como pra alguns não envolve o medo de ser estuprado. Até nos nossos medos os privilégios são marcados. E, como você disse, chegar no fim do dia e dormir bem a noite é pra poucos. Espero que em breve a gente olhe pra trás e considere tudo isso como o absurdo que é.

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    1. Ótima reflexão Saramaga, realmente até os medos tem seus privilégios, melhor ainda é reconhecê-los e mudar isso. Obrigada pelo comentário.

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  5. Sinceron@, compartilho dessa angústia horrível também. É muito ruim se sentir impotente nessas situações, que infelizmente estão muito presentes no nosso dia a dia. Achei seu texto incrível.

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  6. Sinceron@, adorei seu texto e a reflexão que você propôs. Pude sentir o seu medo e angústia, ainda mais em tempos como esse. Precisamos entender para o que estamos alerta, se é para o que realmente importa ou se é para coisas fúteis.

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  7. Obrigada pelo Alerta. Agora vou ficar mais atenta. Creio que há muitos homens voluptuosos ao meu redor. Não é fácil ser uma perua.

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  8. É um tempo difícil para os sonhadores. (Quando não foi?)

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