Sob cárcere do tempo

Enquanto eu estava assistindo a uma aula online, comecei a pensar sobre a minha

rotina atual. Lembrei que a parte mais animada do meu dia é quando eu leio um livro

ou assisto um filme. Pensei na quantidade absurda de horas que eu estou passando na

frente do computador. Não vejo ninguém além dos meus pais e, no máximo, algumas

pessoas por meio de pequenas telas frias de aparelhos eletrônicos. O meu ontem, hoje

e amanhã, se parecem com um único dia interminável. O sentimento que eu tenho é de

que tudo que eu posso fazer é repetido. Isso se contrapõe com o tipo de pessoa que eu

sempre fui, com muitas atividades durante a semana. Uma espécie de Hermione da

série de livros do Harry Potter. Mas, infelizmente, eu não tenho o colar vira-tempo da

história, que me permitiria voltar para momentos especiais do passado. Quando havia

shows, cinemas, encontros, festas e muitas viagens. Como alguém pode se sentir vivo

nessa atualidade? Eu não posso!

No começo, eu criei em mim a esperança de que isso era passageiro, mas conforme os

meses se passaram, isso pareceu cada vez mais eterno. Eu tenho a sensação de que

o meu corpo está completamente preso nesse looping de tempo e atividades. Mais de

um ano sem poder sair de casa. Longe dos meus amigos e parentes. Meu inconsciente

se sente cansado de tanto pensar no que eu devo e quero fazer, mas não posso.

Minha ansiedade me faz criar cenários que eu deveria estar vivendo. Quero aproveitar

as minhas pequenas conquistas nesse momento, mas me sinto sem esperança. Era

para eu estar vivendo ao máximo o agora. Mas o mesmo não me permite ir muito além

das quatro paredes do meu quarto, que se tornou a minha cela.

Eu estou cansado desse looping. Eu quero tanto sair dessa prisão onde, a cada dia,

me vejo mais imerso entre os personagens dos livros que eu leio do que socializando

com pessoas reais. Os quais também estão encarcerados em seus próprios mundos

particulares. Uma forma de fuga seriam as trocas de mensagens e chamadas, mas

acho que eles estão tão cansados quanto eu. E, por isso, simplesmente não

conseguem encontrar ânimo para entrar em contato. O que também me deprecia.

Hoje, porém, uma coisa foi diferente. Eu parei o meu looping para poder desabafar

sobre a minha frustração sobre ele nesse texto. Será que isso já conta como um

primeiro passo para a quebra dos meus grilhões?

Mundo Ressonante