Em fevereiro de 2013, tive o meu primeiro dia do ensino fundamental II na escola
nova que meus pais tinham me colocado. Desde os meus quatro anos de idade eu tinha
estudado na mesma escola, uma escolinha de bairro bem pequena e aconchegante. Aos
onze eu me vi sozinha indo para um colégio onde eu não conhecia absolutamente
ninguém.
Quando entrei na sala de aula, uma menina muito simpática veio falar comigo, essa foi
a minha primeira amiga que me apresentou a todos os outros colegas da turma. Em duas
semanas eu já tinha muitos novos amigos e estava muito feliz na escola nova.
Entre esses amigos, tinha um que tinha se tornado meu “crush”, aquele famoso
primeiro garotinho que a gente gosta na escola. Obviamente eu não contei para
ninguém, esse é o segredo que as crianças protegem fielmente.
Depois de alguns dias de aula, o meu “crush” disse no chat do “facebook” que gostava
de mim. Eu, euforicamente, disse que também gostava dele, e desde então ele passou a
me emprestar a lapiseira mais legal que ele tinha e a pedir para eu segurar o casaco dele
enquanto ele jogava futebol no intervalo.
A história começou a desandar quando os outros meninos da turma começaram a falar
que gostavam de mim também. Eu disse para eles que gostava do Felipe (o “crush”),
mas que eles poderiam ser meus amigos normalmente. E assim seguimos a vida, todo
mundo da turma fazendo ligações uns com os outros pelo Skype todos os dias.
O que a pequena e ingênua “eu” não sabia é que as pessoas podem ser muito cruéis
quando querem. Esses meninos decidiram começar a falar mal de mim, dizendo que eu
queria namorar todos eles porque ficava falando com todos na ligação, falaram coisas
que até hoje eu não sei como saíram da boca de crianças de onze anos.
Tudo isso aconteceu muito rápido, em um dia estávamos todos conversando no Skype
e no dia seguinte eu cheguei na escola e nenhum deles estava falando comigo. Eu fiquei
sem entender nada, até que aquela primeira amiga do início do texto veio me mostrar a
montagem de cunho sexual pejorativo que eles tinham feito de mim.
Eu lembro perfeitamente da foto minha que usaram, o que estava escrito e como eu me
senti enquanto aquela montagem circulou pelos celulares de todos os alunos. Com
apenas onze anos eu senti na pele as dores causadas pela misoginia e pelo machismo.
Crianças de onze anos estão ofendendo e humilhando meninas colegas de classe, mas a
violência não para por ai, o machismo e a misoginia matam. Há três semanas vimos de
perto o caso da estudante Vytória Melissa Mota, de 22 anos, que foi morta a facadas no
Plaza Shopping, em Niterói, pelo colega de curso Matheus dos Santos da Silva, pois o
mesmo nutria um amor não correspondido pela jovem.
Fada Amarela e Rosa
É inacreditável que passemos por isso até na infância, a fase mais inocente da vida. É horrível pensar que muitas vezes precisamos "crescer rápido" para não cair nessas ciladas do machismo. Que tristeza.
ResponderExcluirEu acho que existe esse negócio de mulher crescer mais rápido que o homem ou coisa assim só para existir a desculpa para o homem continuar sendo um tremendo idiota... mas, sim, que tristeza...
ExcluirÉ um absurdo, Fada. Sua crônica me deu arrepios, é simplesmente um absurdo.
ResponderExcluirQue crônica, só fatos infelizmente verdadeiro. Um absurdo sem tamanho o que fizeram com vc e o que ainda acontece. Parabéns pelo texto e seguimos fortes <3
ResponderExcluirNossa! Eram todos tão jovens, mas já com a mentalidade e atitudes de adultos (malvados, por sinal!). É triste demais, a nossa geração, que deveria ser melhor, desde cedo decaindo assim. Sinto muito pelo ocorrido, Fada...
ResponderExcluirQue tristeza, o machismo está aparecendo cada vez mais cedo na nossa sociedade! Uma pena você ter sido mais uma vítima. Adorei o texto.
ResponderExcluirEu na verdade estou se palavras. Achei forte. Me lembrou outro caso, a da estudante que sofreu um caso de racismo em Laranjeiras (Se não me engano), ontem foi para audiência e os meninos e pais riam e faziam piadas do ocorrido. Não é difícil de imaginar de onde aprenderam...sinto muito que tenha que ter passado por essa situação.
ResponderExcluirQue raiva que o seu texto me deu. Espero que esses garotos tenham crescido e mudado, apesar de saber que é pouco provável. É impressionante, também, como ignoramos o machismo no ambiente escolar. Imagina quanto não é aprendido ali...
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