“Menina brinca com menina e menino brinca com menino”. Lembro de meus pais pregando
isso repetidas vezes, eu ainda criança. Na época, não entendia bem o motivo. Hoje, aos 41
anos, acredito que queriam evitar - ou atrasar - algumas descobertas inadequadas à minha
pouca idade... Está bem. Lá fui eu brincar com meninas.
Anos se passaram e eu vivia rodeada por minhas amigas. Lembro de certa vez brincar com
uma delas no meu quarto, como de costume. De repente, ela vira para mim e propõe na lata
“vamos brincar de namorar?”. Eu, como toda pessoa que não sabe bem que resposta dar,
respondi com outra pergunta: “como?”. “Ué, como nas novelas!”, ela disse prontamente,
parecendo a mais sábia das adolescentes. Pensei, pensei e concluí que tão errado não devia
estar, afinal era menina brincando com menina.
Pois pronto: topei. Sem saber direito como seria, afinal, nas novelas que assistíamos nos anos
90, mulheres namoravam homens e só. Fizemos como eles: conversa pra lá conversa,
conversa pra cá e do nada um beijo. Um beijo, como nas novelas. Lembro a sensação da
descoberta. Era como se eu tivesse mordido a tal maçã da história que meus pais contavam.
Não lembro bem. Eu só ia a batizados e missas de sétimo dia.
Comecei a procurar na TV, nas ruas, em todo lugar namoros como o da brincadeira e não
achava. Quando finalmente vi um, ouvi alguém dizer “Desconjuro! Como pode uma pouca
vergonha dessa?”. “Pouca vergonha de que?”, perguntei. “Essa pouca vergonha de mulher
com mulher”, a moça respondeu. Fui até minha amiga, disse que a tal brincadeira acabou e
que o assunto estava enterrado. A maçã era boa, mas Deus me livre de ser expulsa do jardim!
Então, comecei a entender que, quando a “brincadeira” é namorar, a coisa muda: menina
brinca com menino e menino brinca com menina. Que coisa doida. Vai entender... A não ser
que rompa com as expectativas que o mundo despeja em você e mostre a ele que o amor é
livre e não cabe em moldes ou caixinhas.
Avançando a história para encerrar o papo, eu cresci, curti, estudei. Hoje, trabalho, vivo bem
e sou casada com alguém que amo muito. “Desconjuro! Como pode uma pouca vergonha
dessa?”, algumas pessoas falam quando nos vêem juntas. E a vergonha é pouca mesmo: é
nula. O que há de errado? Aprendi com meus pais: meninas com meninas.
Aspirante Ao Que Eu Quiser
Sensacional! Gostei muito mesmo, aspirante. Fiquei completamente envolvido na sua escrita, e adorei a história. Parabéns!
ResponderExcluirQue bom, Coruja! Fico muito feliz. Grande abraço!
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ResponderExcluirLegal, Aspirante Ao Que Eu Quiser. Achei interessante seu texto. Só fiquei com uma dúvida: Se o personagem central da narrativa tem 41 anos, as novelas da infância dele não seriam nos anos de 1980?
ResponderExcluirAdemais, eu achei a história bem interessante e uma crítica bem atual.
Obrigada pela observação, Perua. O fato se passou na adolescência. No início do texto, busquei a lembrança na infância pra contar o caso. Que bom que achou a história interessante!
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ResponderExcluirAdorei! Que texto. Querem nos impor tantas suposições que quando seguimos reclamam? Difícil, rs. Parabéns, Aspirante.
ResponderExcluirAdorei o seu texto Aspirante! No mundo, sempre existiram, e sempre vão existir, pessoas para julgar o que devemos fazer, como devemos nos comportar e quem devemos amar, mas o mais importante é vc tomar as suas próprias decisões! Parabéns por sobrepor todos que já te julgaram e pela crítica no texto, espero que vc seja muito feliz com o seu amor!
ResponderExcluirLindo texto!! Li várias vezes e me emocionei em todas, parabéns!
ResponderExcluirTexto incrível, li algumas vezes e em todas consegui sentir a emoção dedicada nele
ResponderExcluirParabéns pelo texto, Aspirante! O amor é livre e ninguém pode dizer o contrário.
ResponderExcluirAmei o seu texto, aspirante! Inclusive, me identifiquei em algumas partes. Viva o amor!
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ResponderExcluirAspirante, fico feliz em saber que você encontrou o amor, espero que com o tempo e o amor, pensamentos e barreiras se quebrem, boa sorte na caminhada, Axé!
ResponderExcluirEu simplesmente amei o texto, a forma que a história foi contada e o final foram incríveis, parabéns Aspirante !!!
ResponderExcluirEu gostei muito do texto, da forma como você escreveu, da analogia do beijo com a mordida na maçã (foi como se passasse um filme na minha cabeça). Sinto como se pudesse ler mais se o texto fosse mais longo, ao mesmo tempo que acredito ter a quantidade certa de linhas! Bjs! S2 ( escrever em um blog me faz ter vontade de usar emoji com letras haha)
ResponderExcluirAmei seu texto e sua analogia! O ultimo paragrafo foi perfeito, a vergonha é nula como dever ser. Parabéns pelo texto e pela história.
ResponderExcluirAspirante, excelente texto! Me envolvi do início ao fim. Se é livre, se é de verdade e se é leve: é amor. Parabéns!
ResponderExcluirQue texto incrível, Aspirante! As ótimas analogias feitas pontualmente fizeram eu me envolver ainda mais com a história incrível.
ResponderExcluirQue texto sensacional, Aspirante! todos deveriam ver e sentir o amor assim: sem amarras, sem moldes ou caixinhas. Meus parabéns!
ResponderExcluirQue texto sensacional, Aspirante! todos deveriam ver e sentir o amor assim: sem amarras, sem moldes ou caixinhas. Meus parabéns!(o último comentário saiu como desconhecido, então estou publicando novamente como Lua Nova)
ResponderExcluircara, que texto perfeito! foi um aconchego enorme pro meu coração por um milhão de motivos. eu amei não só a leveza, a sinceridade e a simplicidade do texto, mas como você fala de uma forma super maravilhosa sobre o assunto, foi muito bom ler a sua crônica e eu tô doida pra ler seus próximos escritos ❤
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