Na cidade de Aquar, vivia Ultramarino, só mais um cidadão das profundezas do mar. Apenas um fator o fazia diferente dos demais, seu tom, sua pele era escura como o céu de uma noite de lua cheia. Ao longo de suas dezoito primaveras ele teve sua identidade contestada, agredida e amaldiçoada, aliás a tonalidade mais clara era considerada a mais pura das belezas. Ultra não entendia o motivo da raiva e repulsa sob si, pois afinal todos eram azuis.
Antes de pegar no sono, vários episódios reprisavam em sua mente, se lembrava de uma vez no intervalo da escola, em que estava sentado com os seus colegas, e uma garota chamada Francia, resolveu zombar de sua face, dizendo que ele era filho do Arraia Negra (monstro mitológico das profundezas), e o condenou a perecer nas profundezas mais sujas do tártaro. Detestava a maneira que os outros se consideravam deuses e também detestava o silêncio dos “puros”, de acordo com o Livro das Águas Celestes o rei dos sete mares o amava do jeito que ele é.
Passado o dia de seu aniversário de dezoito anos, os moradores, mesmo sabendo do amor de Poseidon com seus filhos, resolveram fazer uma sessão de cura para Ultra, o arrastaram até a casa da mulher de branco, lá foram dados livros, em que diziam que ele poderia arrancar sua escuridão e lavar-se, pois seu tom ainda o levaria a morte, lá a mulher de branco apertava sua cabeça até que seus olhos expelissem lágrimas ácidas que queimavam seu rosto, ouvia-se sua oração em sussurros que faziam seus ouvidos sangrarem. Ultra não se curou ou ficou puro, mas de uma coisa sabia, não aguentava mais aquela violência psicológica.
No dia seguinte, Ultramarino resolveu fugir, atravessou o Mar Adriático em alta velocidade como se as palavras malditas e os demônios de Aquar o seguissem, quando pisou no Mar Egeu, foi recebido pelos guardas da Cidade de Liquez que o levaram até a rainha, seu nome era Anfritite, quando seu olhar foi de encontro ao da majestade, chorou lágrimas de alegria, Anfritite era Azul Prússia.
George Amarelo
Que texto forte. Ainda bem que Ultra encontrou Anfritite e percebeu o seu poder.
ResponderExcluirQue texto lindo e forte. Fico feliz por ter encontrado a Anfritite! Azul Prússia é a cor mais linda!!
ResponderExcluirGeorge, amei o jogo que você fez com as cores, a mitologia e os mares! Consegui entender o que você denuncia por meio das metáforas.
ResponderExcluirGeorge, as suas palavras, as referências mitológicas, as cores, os mares...tudo incrível! Seu texto mostrou como é de suma importância termos figuras que representam as cores que ainda são menosprezadas na nossa sociedade, mas que são tão lindas quanto todas as outras. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirQUE TEXTO!!! Se essa história se tornasse um livro, eu a leria de uma vez só. Fiquei feliz que Ultra finalmente encontrou seu povo. Tão forte e tão atual! não vejo a hora de ler mais textos seus.
ResponderExcluirque final super emocionante!
ResponderExcluirO tanto que eu me arrepiei não está escrito! A crítica social, o mundo mitológico, o drama e o desfecho... Que texto, que talento!
ResponderExcluirQue bom que Anfritite estava lá!
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