quinta-feira, 24 de junho de 2021

Do outro lado da ponte

Era uma manhã de sábado. O sol estava tinindo. O suor escorria na testa das pessoas.

As crianças, que estavam de férias naquela época, corriam em volta dos bancos. Os

adultos se encolhiam perto das poucas árvores que ali havia, numa tentativa falha de

ficar na sombra. Olhando para baixo, lá estava, a Cidade Maravilhosa. Com suas

diversas montanhas, favelas, prédios, museus, teatros, bares, quadras de futebol,

carros circulando, jovens curtindo nas ruas e pessoas indo trabalhar. Não que fosse

possível enxergar todos os seus pequenos detalhes lá de cima, perto da grande

estátua, uma das 7 maravilhas do mundo, o Cristo Redentor. Mas duas coisas eram

bem evidentes: a grande Baía de Guanabara e a ponte que a dividia.

Naquele lugar, tinha uma fila onde as pessoas estavam esperando para chegar até a

parte que ficava mais perto da estátua. E lá estava eu, tímida. Agarrada a minha mãe.

Que conversava animadamente com uma moça que estava na nossa frente. A

conversa começou porque estávamos ali há muito tempo e elas decidiram se distrair.

Elas falaram desde cuidados com a casa até viagens. Mas, em algum momento, a

mulher perguntou de onde nós éramos. A resposta foi imediata - “Não somos da capital

e sim do outro lado da ponte” -. Com isso, ela nos olhou da cabeça aos pés e a

comunicação mudou.


A expressão da moça, que antes era simpática e amigável, se tornou de desprezo e

superioridade. Os assuntos da conversa morreram. Até que pouco tempo depois, o

diálogo se encerrou e a mulher se virou para o outro lado. Passou a ignorar

completamente a presença da minha mãe e eu. Claro que, naquele momento,

ignoramos o que aconteceu e continuamos a aproveitar o nosso passeio. Mas, até

hoje, eu penso sobre essa situação, e sobre algumas outras, em que o local onde eu

moro foi o motivo de intolerância. Porque, para algumas pessoas, ser de um lugar

diferente torna o outro inferior? Pura ignorância e egocentrismo!

A minha cidade pode não ser a mais desenvolvida e nem a mais importante para a

economia do país. Porém, isso não faz com que ninguém daqui, ou de qualquer outro

lugar fora das grandes capitais, seja menos importante e não mereça ser tratado com

respeito. Afinal, nós todos não fazemos parte do mesmo mundo? Apesar de eu ser do

outro lado da ponte, eu ainda sou humana.


Mundo Ressonante

6 comentários:

  1. As pessoas são tão egoístas e ignorantes. Mas parabéns pelo texto, Mundo. Partilho da sua indignação.

    ResponderExcluir
  2. Nossa Mundo, que situação desagradável, infelizmente existem pessoas que se acham superiores a ponto de agir de tal maneira ou pior…essa mulher nem merece estar em seus pensamentos

    ResponderExcluir
  3. São esses tipos de pessoas que fazem os lugares se tornarem feios. Já passei por situações parecidas e isso me motiva a estudar para que a próxima geração não passe por isso. Abraços!!

    ResponderExcluir
  4. Se tem algo desconfortável é estar perto de pessoas assim. Não conseguem aceitar que outros que não vivem sua realidade cheguem nos mesmos espaços que eles. É patético! Ótimo texto, Mundo! Passo direto por situações como essa e pude me ver na sua indignação.

    ResponderExcluir
  5. eu não sei nem o que comentar, mas consegui até mesmo sentir raiva que você sentiu por essa pessoa daqui, do outro lado da tela. lindo texto também!

    ResponderExcluir
  6. Não consigo imaginar como é passar por isso.. como existe gente nojenta nesse mundo.

    ResponderExcluir