quinta-feira, 17 de junho de 2021

Para aqueles que vão me conhecer

Sabe, de pequena, vestia-me de rosa.

O pai dizia: ‘’Parece que só tem uma roupa.’’
A tia me presenteava com vestidos amarelos, azuis, verdes.
A mãe sempre com a resposta tinindo: ‘’Quem pariu?’’

Eu mesma não entendia bem as conversas que ouvia, mas acho que me sentia bem com aqueles vestidos rosas e caprichados em união com brincos, pulseiras e laçarotes. E me chamava à atenção os olhares que recebia das mães das meninas da minha idade e também o das próprias meninas. É bem verdade que eu não entendia nada, mas sabia que gostava.

Conforme os anos passaram, a mãe pôs também no balé “olha quanto rosa, minha filha’’. No começo, me lembro bem, eu gostava bastante, exatamente pelo rosa e pelos acessórios. Quando vieram as responsabilidades, aquele rosa já não tinha mais aquela intensidade de cor.

Chegou, então, o momento em que neguei o rosa. ‘’Acho que o problema é o rosa.’’, eu pensava. Então, eu mudei os meus gostos: junto se foram os acessórios, o cabelo, a cor intensa. Achei que aquilo tudo era influência da mãe. E a mãe se assustou e agora a resposta que tinia era ‘’esta não foi a educação que eu te dei”.

Eu neguei e reneguei aquela educação. Eu queria tanto me encontrar. Mas não sabia que tinha me encontrado. Mas também, se eu não procurasse, será que saberia que tinha encontrado? Não sei.

Os anos passam. Hoje eu sei que entendo tudo. Eu não gostava do rosa. Eu não gostava dos acessórios, do cabelo. Eu gostava era da atenção que eles me atribuíam; da graciosidade que me possuía feito um personagem que precisava do seu figurino para existir; da luz e da força que eles faziam nascer de mim. Que confiança!

Porém, o que sou e o que vim aqui apresentar, encontrei depois. Foi depois que eu entendi que gostava do rosa, dos acessórios, do cabelo, porque só gostava mesmo. Mas quem atrai as atenções, quem é graciosa e flui luz e força, além de outras coisas mais que vou deixar para uma próxima conversa? Sou eu. Por isso, hoje, me permito contar esta história que adormece em mim mas que também é combustível. Assim, neste início de conversa, basta para entender como descobri quem eu sou, pois, sabendo quem sou, de fato, eu possa me apresentar.

Don't call me Madam. 

Prazer,
Perua.


25 comentários:

  1. Caramba, Perua, seu texto me fez refletir sobre minha relação com os "gostos" que chamo de meus. Será que gosto por gostar, ou apenas pelo que eles me atribuem? E se formos mais adiante, podemos questionar a presença de algumas pessoas em nossas vidas também. Incrível a reflexão. Parabéns.

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    1. Nossa, Bic. Você falou tudo... será que algumas pessoas que gostamos, gostamos porquê gostamos ou por quê elas nos proporcionam algo? Valeu a troca de ideia. Muito interessante.

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  2. Reflexão incrível que seu texto traz, Perua. Adorei a forma que você escreveu ele também, parabéns.

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    1. Hei, Coruja! Obrigada por trazer sua impressão sobre o meu texto.

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  3. Oi Perua, infelizmente alguns pais projetam expectativas e sonhos deles mesmos em seus filhos, e acabam esquecendo que seus filhos não são apenas para eles guardarem no ninho, pois algum dia mesmo que doa eles vão voar. Fico feliz que você tenha se encontrado!

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    1. Fala, George! Sonho pelo dia em que todos possamos nos encontrar e nos reencontrar sempre que preciso.

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  4. Que reflexão!! Admiro muito quem consegue se entender de verdade, sem as imposições de outras pessoas. Parabéns pelo texto e por ser quem você é!

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    1. Obrigada, minha querida, Estagiária. Avante! todos podemos!

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  5. Oi, Perua. É muito interessante a maneira que você escreveu esse processo de descobrir mais sobre si própria. Prazer em te conhecer!

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    1. Prazer é todo meu, Asa Monstro. Espero que encontrar mais por aqui.

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  6. Quando eu ainda era pequena, eu estava brincando com uma amiga e a mãe dela me perguntou "Qual é a sua cor favorita?" e eu respondi "Azul", com isso, ela me respondeu que eu já estava ficando grande pq todas as garotas passam pelas fases de cores favoritas: Rosa quando pequenas-Azul quando adultas. Depois disso, todas as vezes que me faziam essa pergunta, eu respondia qualquer cor menos Rosa e Azul, pq eu eu queria ser a diferente e chamar mais atenção kkkk Mas,além disso, até hj eu reflito sobre essa situação, pq a mãe da minha amiga não estava totalmente errada, e faz muito sentido com o q vc relatou no seu texto. Será que a maioria das garotas tem esses gostos pq a sociedade nos infuencia a isso ou pq realmente gostamos? Acho que cabe a nós mesmas pensar sobre isso e buscar os nossos verdadeiros gostos! Parabéns por fazer isso!

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    1. Claro, Mundo Ressoante. Refletir em nosso mundo é sempre importante!

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  7. Amei o seu texto, Perua! Fico feliz por ter se encontrado.

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    1. Muito obrigada, Noite estrelada. Fico feliz que tenha gostado.

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  8. Amei o enredo todo, que ótimo que se descobriu. Continue sendo luz, Perua.

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    1. Se você é Sinceron@ eu acredito que o enredo ficou mesmo bom. Agradeço!

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  9. AMEI, AMEI, AMEI. Passei por aquela situação de adolescente quando a gente ainda está tentando se encontrar, e, a sensação de chamar a atenção, por ser diferente ( e tentando com esforço) era algo de que gostava, com toda aquela maturidade da idade. Mas tarde quando passei por algo parecido custei a entender que não me resumo só aos meus gostos, já que estes são sempre passageiros, mas ainda é um ótimo processo de descobertas. Ótima reflexão S2

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    1. Sim, Larajenha. A gente vai se descobrin e redescobrindo e a medida que isto acontece, vamos também descobrindo nossos gostos. Uma vez li em alguma lugar, por isso não sei sobre o autor, mas me parece interessante pontuar aqui: "A vida é uma sucessão de fatos que tentamos aperfeiçoar todos os dias." Beijos, Larajenha!

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  10. Oi Perua, amei sua autorreflexão. É engraçada forma como a nossa visão sobre o outro e sobre nós mesmos é construída. Não vejo a hora de te conhecer!

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    1. Saramaga, a cada semana vamos nos conhecendo mais. Tão bom essa sensação de irmos nos descobrindo.

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  11. Perua, amei a reflexão e me identifiquei nela. Passei anos da minha vida querendo usar tudo que era preto e era constantemente tido como gótico e a minha familia me olhava torto. Infelizmente isso ocorria. Meus parabéns!

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    1. Olha os Fatos Socais de Durkheim aqui no seu relato, heim Mamicota Junior. Já estudando para Sociologia!!

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  12. Você teve uma capacidade incrível de perceber o que realmente pensava e uma coragem imensa para realmente se redescobrir depois de reconhecer seus gostos, isso tudo contado de um jeito maravilhoso. Lindo texto, Perua!

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  13. Seu texto é incrível, gostei muito da sua abordagem sobre o assunto e o modo como escreveu. É realmente uma reflexão que deviamos fazer mais vezes. Será que eu gostamos mesmo do que gostamos?

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  14. Olha, esse texto me fez pensar demais a respeito da oscilação de nossos gostos e o quão peculiares eles são. Ótimo texto, obrigado por isso.

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