O homem pequeno

O homem pequeno saiu de casa para o trabalho, atravessou o jardim com cuidado para não pisar em

nenhuma formiga. Ele andava de forma meio cômica, com o peito estufado, e todo esticado. As

roupas eram largas, o tênis gigante, dando ao homem pequeno um ar engraçado.

Quando via uma mulher vindo em sua direção, se esticava mais ainda, até doer o osso. Quando um

homem mais alto passava do lado dele, ficava todo tenso e nervoso. Quando passava por um homem

mais baixo, suspirava de alívio.

Chegou no trabalho e fez o seu melhor, mesmo sentindo que seus esforços não eram suficientes.

Felizmente, para ele, hoje não era dia de ficar triste, tinha conseguido um encontro com uma mulher

depois do trabalho. Pensava alto: finalmente era a sua vez.

Quando deu a hora, saiu feliz do trabalho para ter seu encontro. Estava tão animado que esqueceu de

se esticar. Ficou em pé no lugar onde tinham marcado de se encontrar, na frente de um café simpático.

Pegou o celular para confirmar o horário, estava pontual.

Mas, mesmo pontual, não havia nenhum sinal da mulher. Esperou, cinco, dez, quinze, vinte minutos.

Mandou uma mensagem perguntando se tinha acontecido alguma coisa. Ela respondeu que tinha feito

uma confusão. Achava que o homem pequeno era grande por causa das fotos, mas quando chegou no

local e viu a altura verdadeira, acabou ficando decepcionada e voltou para sua casa.

Arrasado, o homem pequeno murchou um pouco. Para não se sentir a pior pessoa existente, ligou para

seus amigos perguntando se eles queriam sair para beber. Todos concordaram, e quando o homem

pequeno chegou no local, já estavam em festa.

Desabafou para seus amigos o que tinha acontecido com ele mais cedo e perguntou se realmente era

tão pequeno assim. Depois de um momento de hesitação, responderam rapidamente que era o maior

homem que eles conheciam. Responderam que a mulher não era grande coisa. Responderam que

tamanho não era documento. Responderam que...

A cada resposta o homem pequeno encolhia mais. Era realmente pior e menor do que todos ali.

Quanto mais consciente ficava, menor ele se sentia. Não conseguia mais sentir os pés no chão, não

alcançava mais o copo e os talheres da mesa.

Encolheu até os seus amigos que estavam ali para ele não perceberem onde ele estava. Então, resolveu

voltar para sua casa. Estava cansado do dia, de ficar em pé.

Enquanto voltava para casa, pensando em como crescer na vida, alguém descuidado acabou pisando

no homem pequeno como se fosse uma formiga de jardim. Na sola do sapato, pensava que era isso

que merecia.

Asa Monstro