quinta-feira, 24 de junho de 2021

Outras como Brenda

 Quando pensamos em alguma situação em que alguém oprime o outro pra se sentir bem,

várias situações vêm à nossa mente, e hoje quero falar de uma em específico:a que ocorre

dentro da nossa família. Posso estar generalizando, mas já vi, e ouvi, muitas situações

parecidas dentro de ambientes familiares e acho que não enxergamos isso como uma

opressão propriamente dita.


Essa é a história da Brenda, que foi expulsa de casa ainda jovem pela própria mãe

simplesmente por estar namorando. Mas até aí é só mais uma história comum de uma cidade

do interior. Revoltante? Sim, mas infelizmente é a realidade de alguns lugares. Brenda foi

forçada a morar com o namorado por volta dos 20 anos simplesmente porque a mãe foi contra

o relacionamento.


Depois de anos, óbvio que a relação entre mãe e filha “melhorou”, e coloco entre aspas

porque mesmo que tenha sido perdoado, não quer dizer que foi esquecido, apenas deixado de

lado por se tratar de família. Durante vários anos, tiveram altos e baixos tanto no casamento

como na família, como a descoberta de um câncer.


Por si só, a doença já é algo que sensibiliza, mas errado é quem pensa que fica em paz aqui.

Mesmo enfrentando todo o tratamento, Brenda foi obrigada a ouvir da boca da própria mãe, a

mulher que a colocou no mundo, que seu marido - aquele mesmo namorado do início- só

estava com ela porque ela foi expulsa de casa e tinha a obrigação de cuidar dela.


O ponto que quero chegar é: quão baixa não deve ser a autoestima de uma pessoa pra precisar

colocar sua própria filha numa situação tão humilhante apenas pra reafirmar o quanto é boa?

Querer jogar na filha que seu relacionamento só existe hoje por uma atitude que ela tomou sei

lá quantos anos atrás? Querer reabrir uma ferida antiga pra poder se colocar como

protagonista?


Retomando o que eu disse no início dessa crônica, muitas vezes presenciamos alguma

situação opressiva dentro de casa e a relevamos por “ser família”. Quantas Brendas não

existem por ai, com histórias parecidas mas que deixam passar por não terem noção da

gravidade. A criação que temos é: “Fulano pode fazer isso porque é filha dele”, "Sicrana tem

que aceitar a situação ‘x’ porque é a tia dela”. E quantos casos de violência já não tiveram por

ai sob essas desculpas?


Sienna Vettra

2 comentários:

  1. A opressão pode estar dentro de casa. O 'sangue do meu sangue' não anula as violências que podem acontecer. Precisamos desmistificar esse "acordo sagrado" de família e reconhecer quando existem abusos. Parabéns pelo texto, Sienna.

    ResponderExcluir
  2. Sienna, eu gostei muito da crítica do seu texto! Acho importante que a pessoa sempre busque estar com quem a faz se sentir especial, seja essa pessoa da família ou não! Pois a verdade é que "ser do mesmo sangue" não faz de ninguém uma pessoa legal e muito menos significa que essa pessoa vai ser boa para você. Um abraço!

    ResponderExcluir