O estalo que um dia clareou a mente para um outro caminho, hoje é travado em dedos
torturantes, de um símbolo tão antigo, mas ao mesmo tempo tão atual. Adentrando a
perdição de uma floresta não mais tão viva, vi e senti o engano do lugar em que vivo,
onde a esperança de um povo garrido é covardemente violentada. Há de vir um grito.
Confesso que foi difícil assistir o reaparecimento dos nefastos. Por muito tempo,
minha gente pediu paz e chuva naquela terra seca. A luta vive em cada um de nós, mas
meu coração também clamava por amor e descanso. Quando a fumaça nefasta atingiu
as famílias e os amigos, foi necessário lembrar que muitos também já passaram pelo
mesmo caos, nunca foi uma novidade nessas terras, mas resistir doía. Resistir por
tantos séculos marcou na pele e na mente, e a cada vez que nos questionávamos
quanto a nossa miséria, afirmávamos cegamente a nós mesmos que os senhores são
exemplo e nós vagabundos. Hora de voltar ao trabalho. Quando sente fome, quando é
expulso de sua casa, quando é humilhado durante o trabalho, quando é alvo de piadas
generalizadas, minha gente acredita que a culpa é unicamente dela. Crueldade contra
os clementes? Vai vendo.
Peço que Deus pague por essa seca, pois o grito da alma é ensurdecedor dentro de
mim. Que quando minha mente desviar o pensamento desse universo encubado e
obtuso, ela vá para bem longe onde tudo vai bem, e crianças, adultos, anciãos e jovens
caminham livres. Guardarei minha felicidade para esse lugar, pois enquanto caminho
nessa terra habitada por chagas, há um espírito que clama por liberdade e igualdade, e
ele continuará a resistir longe das veredas facínoras. Para mim, guardei a catarse que
me move. Para o mundo, guardei a revolução. Ao meu povo garrido, o canto ainda não
cessou.
Desértico Joe
"Para mim, guardei a catarse que me move. Para o mundo, guardei a revolução. Ao meu povo garrido, o canto ainda não cessou."
ResponderExcluirQue trecho lindo, Joe. Aliás, todo o texto é forte e lindo. Me senti envolvida na leitura e me fez refletir de verdade. Parabéns pela escrita fantástica.
Seu texto para mim foi como uma viajem a um lugar distante, mas infelizmente ele ainda é a realidade de muitos. Parabéns por sua escrita, Joe.
ResponderExcluir