“Bandido bom é bandido morto” esbraveja Antônio assistindo ao telejornal
policial, na sua televisão parcelada em 12 vezes, dentro de sua casa financiada em
360 meses, em Guaianases, zona leste de São Paulo.
Antônio sonega imposto do seu pequeno comércio, atrasa o pagamento
da pensão da filha do primeiro casamento, recebe e espalha conteúdo pornográfico
de menores de 18 anos no Whatsapp, difama os vizinhos e força a esposa a ter
relações sexuais. Portanto, é bandido, pois todas essas atividades são crime. Na
sociedade que Antônio acredita e almeja construir, será que esses delitos seriam
penalizados com morte também? Ou talvez só uma tortura ao estilo Coronel Ustra?
Para além da criminalidade, Antônio tem em comum com os bandidos o
bairro, as marcas de ser periférico e a dificuldade de acesso a espaços culturais e
esportivos. Mas, por ter conseguido abrir um mercadinho, acredita estar bem
distante dessa realidade. Bastou um pouco mais de dinheiro e oportunidades para o
homem enxergar-se acima das pessoas que o cerca.
“Bandido bom é bandido morto” repete Antônio, reagindo a mais uma
reportagem do telejornal, sem dar-se conta de que as diferenças que o separa
daqueles indivíduos mortos é tão ínfima que, para as elites, ele é tão descartável
quanto. Ao ouvir essas palavras, um de seus filhos diz “pai, poderia ser o senhor
ali”, na tentativa de fazer surgir um pouco de empatia no pai. Mas não adianta,
Antônio está anestesiado pela ideia de decidir quais indivíduos devem viver e quais
devem ser aniquilados.
Euridice Gusmão
Euridice, você mostrou a realidade que a gente vive hoje. Antônio é só mais um entre muitos "cidadãos do bem" que de bem não tem nada. Boa análise!
ResponderExcluirEuridice, muito boa sua reflexão! Quanta hipocrisia no mundo de hoje né?
ResponderExcluirNossaaaaa amei o texto, vc super relacionou o seu texto com o narcisismo das pequenas diferenças de forma leve e beeeeem reflexiva amei demais, fui até imaginando uma cena para esses fatos narrados. Parabéns vc arrasouuuu
ResponderExcluirAdorei sua reflexão. Ela mostra como uma simples ascensão minúscula já causa o distanciamento com o próximo
ResponderExcluirQUE texto!! Bandido bom é bandido morto, menos eu.
ResponderExcluirUm tema a se pensar, falta empatia e sensibilidade ao lidar com o outro.
ResponderExcluirEuridice, que texto incrível. Falta empatia e, principalmente, olhar para si mesmo. Antonio tem um pensamento retrógrado e ultrapassado. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirOi Euridice, seu texto me tocou muito. Algumas pessoas às vezes só por subirem um pouco de posição já começam a se achar melhor que as outras. Um dia eu ouvi uma frase que eu levo para a vida: "Saiba de onde veio que saberá para onde vás". Com certeza, seu Antônio está perdido ainda.
ResponderExcluirAnsiosa para as próximas, abraços!
Euridice, seu texto conseguiu trazer a hipocrisia que a gente tem vivido no Brasil nesses últimos anos de uma forma bem leve e envolvente. Antonio é só um entre vários que tem esse mesmo pensamento antiquado. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirEuridice, que texto descomunal! As vezes o que falamos dos outros diz muito mais sobre nós mesmos…amei a reflexão que seu texto meu trouxe, a hipocrisia reina em mentes alienadas…
ResponderExcluirMuito bom, descreveu um discurso que vejo falarem todo dia, infelizmente. Achei que está dentro do tema, e que foi passado de uma maneira bem legal!
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