Queria escrever como o valter hugo mãe. continuamente me impressiono e me identifico
com a forma tão bonita de escrever o simples. todas as palavras do mundo já foram
criadas e ditas e repetidas e gritadas sussurradas gemidas, mas quando ele as ordena,
parecem novas. quando falta um travessão ou quando há exclamações demais, nunca
falta e nunca é demais, porque são todos dele. a liberdade que ele cria para si e transfere
para qualquer um que o lê sempre se torna pessoal a mim, como se eu também a
permitisse ser criada. queria escrever como valter hugo mãe. Porém, quem sou eu para
querer escrever como Valter Hugo Mãe? Não posso tomar para mim algo que não é
meu, mesmo que queira muito. Tento buscar conforto no que já tenho e em meio ao
emaranhado infindável de pensamentos e sonhos, bem no fundo, encontro meu recalque.
Ironicamente, sei que não é tão meu assim. Divido meu desconforto com tantas outras
pessoas que talvez nem seja tão incomodo, só chato. Revelo ao mundo com a intenção
de perdê-lo por aí: NUNCA VOU SER TÃO BOA QUANTO ELES. Que tipo de
recalque é esse? É só isso que está reprimido no seu inconsciente, secreto e escuro, que,
por vezes, escapa e envergonha e que, por vezes, te tira o sono, mas você não entende
por que não consegue dormir? “Já passei por isso”, grita a vizinha na janela da frente.
Porra! Me deixa ter uma experiência única! E não é só isso que me aflige, tá. Também
sou complexa e cheia de nuances. Fique sabendo que sei sim ser original, quase
respondo. Decido dar um sorriso amarelo e ficar calada. O silêncio sempre me consome
e todas as vezes que ele faz ficar opaco por dentro, sei que vai ser ruim. Cozinhei
calada, tomei banho calada, arrumei minha casa calada, dei boa noite aos meus gatos
calada e dormi barulhenta. Meus pensamentos passearam, ou melhor, correram, por
todos os sete cantos da minha mente como se ela estivesse além do monte de massa
encefálica preso no meu crânio (por sua vez, coberto pelo meu cabelo cheiroso, pelo
menos isso). Carregavam minha insegurança para lá e para cá e quase solto um riso
bobo quando um dos meus neurônios tenta ilustrar tal cena. A correria não cessou. Não
recebi respostas, não sonhei essa noite, não perguntei à minha vizinha como, então, ela
fez para passar por isso. Acho que não entendi o que é um recalque e agora é tarde
demais para descobrir. Ou talvez me falte coragem para encarar meus recalques mais
profundos. Não os quero. queria escrever como valter hugo mãe, mas talvez eu só seja
tão boa quanto Eu.
Ametista
meu deus, eu tô sem palavras pra descrever o tiro que foi esse texto. eu tô apaixonada pela sua escrita, sério. se você queria escrever como valter hugo mãe, eu gostaria de escrever como você. de longe o texto que eu mais AMEI ler até agora ❤
ResponderExcluirÀs vezes também me sinto assim, Ametista. Queria ser tão boa quanto eles. Às vezes gostaria até de ser a melhor de todas em qualquer lugar que piso. Parece egocêntrico, eu sei, mas acredito que todos gostariam, pelo menos um pouquinho, de ser o melhor já visto. Mas, certa vez, ouvi do meu pai que sempre existirão pessoas melhores que nós em tudo. E essa é a graça: assim, podemos aprender com elas. Já pensou ser tão bom que já não resta nenhuma novidade que não saiba? Certamente, perderia o brilho. Parabéns pelo texto. Adorei.
ResponderExcluirAmetista, eu te garanto que sua escrita é incrível e seu texto é lindo. Às vezes queremos ser tão iguais aos outros que esquecemos de ser nós mesmo, tenho certeza de que é a melhor que pode ser. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirEu entendo um pouco desse sentimento de querer ser a melhor em tudo, Ametista. Seu texto me fez perceber que todos temos isso dentro de nós. Parabéns pela escrita incrível.
ResponderExcluirOi, Ametista. Eu também tenho esse sentimento, e uma coisa que me faz ficar um pouco melhor, (não sei se vai funcionar com você) é lembrar que as pessoas que a gente se compara e não é tão boa quanto, também é uma pessoa que se sente assim em relação aos outros. É um texto lindo, cheio de nuances. E agora você vai me fazer comprar algum livro do valter hugo mãe...
ResponderExcluirAmetista, fiquei sem palavras com seu texto. Nunca li Valter Hugo Mãe, mas te garanto que, mesmo assim, seu texto é lindo e bem escrito.
ResponderExcluirAmetista, gostei muito da proposta do seu texto! As repetições de termos e palavras tornaram a leitura ritmada e fluida. Ah, e vale a pena tentar refletir e buscar inspiração em autores e pensadores de sucesso, mas confie em você. A sua escrita está indo no caminho certo!
ResponderExcluirAmetista, eu amei sua escrita!!! Compartilhamos esse mesmo sentimento
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