Uma mulher e um homem se conhecem na faculdade. Entre trabalhos em grupo
e festas, aproximam-se cada vez mais, compartilham seus gostos, ganham intimidade
até se tornarem um casal. Ao apresentá-lo ao pai, a mulher é proibida de seguir com o
relacionamento. O motivo? “Você é negro! Minha filha não vai namorar um negro!”.
Lembro-me de quando fechamos essa parte do roteiro da peça como se fosse
ontem, e já faz alguns anos. O peso de trazer uma situação tão real quanto delicada era
enorme, mas, àquela altura, estávamos chegando ao ponto máximo de crítica da trama
no momento em que Vitor – intérprete de um dos personagens principais da história, o
homem em questão – trouxe o auge que precisávamos chegar.
“Eu já suportei demais o seu escárnio. Suportar é a lei da minha raça. [...] eu sou
negro...eu sou negro sim, mas, por um acaso, negro não tem olhos? [...] Quando vocês
dão porrada na gente, a gente não sangra igual? [...] Quando vocês dão tiro na gente, a
gente não morre também? Pois se a gente é igual em tudo, também nisso vamos ser!”.
A fala de Lázaro Ramos enquanto personagem Roque no filme “Ó Paí, Ó” era
perfeita para completar a cena – pensei. Entretanto, no momento em que o vi encenando
o trecho pela primeira vez, percebi que não se tratava apenas de um excelente recorte
lembrado para fortalecer a nossa crítica, mas de uma grande oportunidade de Vitor
externar o seu eu violentado por anos. Já tinha ouvido dele e de um dos diretores da
peça fortes histórias de repressão que aconteciam dos shoppings da Zona Sul carioca
aos supermercados da Baixada Fluminense. Não importava o lugar ou a circunstância,
alguém sempre tentava se mostrar superior violentamente pela cor da pele ou orientação
sexual.
Para alguns, talvez você e Vitor sejam iguais. Não! Não são. Dizer isso seria
mais uma vez reduzir suas vivências e dores a um mesmo sofrimento desconsiderando
suas individualidades. Mas é possível que você também queira a sua chance de externar
o seu eu e ainda não conseguiu.
Veja, hoje, Vitor está prestes a começar a cursar Direito em uma universidade
federal. Infelizmente, ele ainda pode e é provável que irá sofrer durante a vida afetando
o ego de pessoas que não suportam alguém “diferente” no meio. Meu conselho? É para
você. Inspire-se em Vitor, o maior exemplo que tenho de pessoa que externa sempre
com alegria o orgulho de ser gay e preto em uma sociedade indiferente aos tais
diferentes.
O Tempo.
Que lindo, Tempo. Estou torcendo por Vitor e espero que ele ainda ocupe muitos espaços pra incomodar os ignorantes preconceituosos. A pele preta carrega vivências e uma força que os outros jamais entenderão de fato. Ainda bem que existe a arte pra trazer um pouco dessa resistência tão potente à tona. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirTempo, eu gostei muito do seu texto! As pessoas gostam muito de julgar umas as outras por causa de qualquer coisa. E um dos primeiros passos para combater preconceitos e ser feliz consigo mesmo é o de se orgulhar de quem você é. Então, continue sim se inspirando no Vitor! Abraço!
ResponderExcluirTempo, me enoja essa sociedade ser tão nojenta com o outro pelas "diferenças". Diferenças no o que, afinal? No fim da vida de cada um, todos se tornam a mesma coisa: ossos ou cinzas. No fim ninguém é diferente, mas as pessoas insistem em levar conceitos tão ultrapassados para frente. Parabéns pelo texto.
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