Eu me encontrei no Sol. Devo dizer que depois de tanto tempo perdido, estar entre as
cordas remendadas de um som salvador, me faz feliz. Não digo magnífico, esplêndido,
fabuloso. Mas mudou minha vida com algo que eu rejeitava, e na procura por qualquer
sinal luminoso, encontrei minha própria paz.
Para um garotinho no auge dos seus 10 anos em 2013, onde tudo que se procura é
uma coca gelada e qualquer brincadeira descontrolada, a solidão podia ser uma praga.
Os colegas de escola vidrados no incrível Ipad que rodava todo tipo de jogo, desde
Subway Surfers (o joguinho do grafiteiro pego por um policial que foge correndo em
cima de metrôs), até Angry Birds. Pois bem, aquele garotinho não entendia nada do
que rolava entre os garotos do colégio, e por mais que ele tentasse compreender esse
estranho novo mundo, era um outro tipo de universo, o que podia lhe render clássicos
apelidos, dos mais pesados aos mais caricatos. O garotinho não curtia muito comentar
sobre os eventos que o marcavam na escola. Havia companhia para o desabafo, mas
ele sentia que algo o prendia dentro de uma cela aberta, onde o silêncio o impedia de
lutar por si mesmo. O silêncio era um lamento para o garotinho. Entre futebol, piscinas
e quietude, a vida ia. E foram várias tentativas para que o pequenino falasse sobre
tudo que o incomodava.
Em uma dessas oportunidades, se abriu um horizonte diferente. Uma visita com um
doutor se mostrou reveladora a ele. Doutor Zico (até hoje não se sabe se é o
verdadeiro nome ou um pseudônimo muito curioso) gostava de jogar cartas, o tempo
corria livre com o seu modo belo de embaralhar as cartas e distribuí-las na mesa. Ao
final de uma das conversas do garotinho com o Doutor, Zico o aconselhou: “Garoto,
não sei se já tentou um hobby para acabar com esse silêncio, mas procure tentar. Às
vezes, o silêncio pode falar.”
Numa tarde de terça, num violão de náilon gigantesco, surgiam acordes naquelas
cordas paradas. Lentamente, o silêncio pedia saída para um outro lugar, um outro
momento. Os dedos do garotinho faziam música, claro que desconcertante no começo
e um tanto perdido pelo tempo, mas sentiu de verdade a vida passar por suas mãos e
pés. E naquela tarde de terça, com a luz e o vento acompanhando sua canção, o
garotinho se encontrou no Sol.
Desértico Joe
Caro Desértico Joe, preciso dizer que me arrepiei com seu texto! O silêncio finalmente falou; no dedilhar do violão e a música desajeitada que quase consegui escutar daqui. Parabéns pela sensibilidade. Adorei sua escrita.
ResponderExcluiroii Desértico Joe, o seu texto está lindo e de uma sensibilidade sem tamanho, gostei muito no final você tirar essa angústia através da música fiquei muito feliz por você. Parabéns pelo texto e que você ainda fale muitas coisas para esse mundão.
ResponderExcluirOi, Joe! Gostei muito do segundo parágrafo do texto, com tanta quietude e solidão, às vezes a gente esquece do Sol. Que bom que o garotinho encontrou cedo!!
ResponderExcluirLindo texto, Joe! Me emocionei no final, parabéns.
ResponderExcluirMuito bonito o seu texto, Joe! É muito bom poder recorrer a arte e a natureza quando as pessoas e a nossa voz não são o suficiente. Fico feliz pelo garotinho ter se encontrado!
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