Espelho, espelho meu... será você, eu?

Olho no meu espelho e vejo você. Ou melhor, me vejo em você. Te vejo, o espelho que se fragmentou, enquanto sou o reflexo aparente nas rachaduras.

 É incrível a maneira como me identifico com você. Um pseudônimo que fala, não apenas através do nome, mas através das palavras, de opiniões e de lições. O quanto conseguimos aprender se analisarmos as consequências que uma rachadura traz é primoroso. Imagina ainda, uma rachadura que fala, que nos ensina; que sente, se entrega e se alegra. Sofreu e sofre com as dores que vêm do nada. Lutou e luta para manter a cola do que se fragmentou bem colada. Cola esta que tentou, mas não consertou os rachados.

Conheci sua tia através de suas palavras, entendi sua angústia através de suas metáforas. Conheci sua opinião sobre o governo, entendi todo o seu desgosto, peguei empatia por você sem nunca ter visto um rosto. Eu não ia rimar, não. Mas a nostalgia que a sua crônica trouxe me deu inspiração. Por isso aqui vai a minha resposta: 

Se eu gosto de desenhar? Acertou em cheio. Se eu tenho dificuldade em fazer amigos? Seu palpite foi certeiro. Mas, assim como você, a Terra do Nunca me fragmentou bastante, afinal eu não vim do País das Maravilhas. Adultos não são muito fãs de contos de fada... e, por vezes, tentam acabar com a magia. Como qualquer fada eu tentei voar pra longe, sim. Mas como sabemos, meu brilho vira pó quando não acreditam em mim. 

Um capitão-gancho também já me deu uma ganchada nas costas, e eu por muito tempo acabei na fossa. Com o tempo, eu decidi perguntar “espelho, espelho meu, existe solução para um corte feito na alma?” e o espelho me respondeu que esse era o processo da dor que eu não esperava. Porque o espelho não dá soluções, mas ele dá lições; e uma delas é que a dor não avisa quando vai chegar, nem por meio do que ou de quem vai ser sua visita. Mas deixa eu te falar, espelho: se você acreditar, o brilho volta a brilhar e as asas voltam a funcionar. Eu, Sininho, aprendi isso. E foi apenas depois que eu acreditei em mim, que eu passei a não deixar mais nenhum capitão-gancho me machucar. O processo da dor te faz sair do seu mundo, sabe? E, às vezes, você pode acabar caindo no mundo de outra pessoa. Mas, se tiver sorte, um chapeleiro maluco aparece e te faz perceber que nem tudo o que é o normal é pra você. Nem sempre, porque você nasceu na Terra do Nunca, é nessa terra que você pertence. Então esse é o meu conselho, espelho: deixa essa cola pra lá, suas rachaduras não precisam se colar. Então, vem! Pode vir. Mesmo fragmentada, nós - malucos do País das Maravilhas - adoraríamos te receber aqui. 

Sininho no País das Maravilhas