sexta-feira, 14 de abril de 2023

 Coloco a máscara no rosto antes de sair, como de costume, na mochila o álcool em gel,

como manda o protocolo do novo normal. Nunca de fato me acostumei com a rotina

pandêmica, era incômodo cursar o ensino médio nessa situação. Chego em casa após a

manhã cansativa, pouso a mochila no sofá e ouço a voz de minha mãe que sempre

ecoava quando abria a porta. Mas nesse dia, a voz era outra, soava trêmula, embargada,

e carregava consigo a notícia de que teríamos que viajar, minha vó havia nos deixado.

As palavras desceram frias e ásperas pelos meus ouvidos, e por onde passavam

deixavam um rastro gelado, que se convertia em lágrimas, essas que por sua vez, se

convertiam em trauma, dor e silêncio.

Mas o que é trauma? Em termos profissionais, resposta emocional a experiências

perturbadoras, para os indivíduos que assim como eu, não são fluentes no jargão

médico, trata-se da dor que carregamos todos os dias no interior de nossas almas, o peso

que levamos diariamente em nossas costas. Corresponde ao silêncio, a sensação interna

de sofrimento, a dor que parece nunca cessar, que caminha ao seu lado durante o dia, e

em seus sonhos ao anoitecer.

E de fato, ela não cessa, a saudade descrita perdura há 2 anos, mas no decorrer desse

período, tem se convertido de forma cadenciada em algo menos doloroso, talvez o que

se referem como aceitação. Particularmente descrevo como a influência das memórias

boas do que compartilhamos ainda em vida, que culmina em um sentimento quente, que

subjuga o frio interno de outrora e substitui as lágrimas de melancolia por lembranças

ternas. Sinto que o sentimento nunca me deixará completamente, e não quero que deixe,

afinal constitui parte do que me tornei.

-Alex Johnson.

2 comentários:

  1. Interessante a maneira que usou o significado mais formal de trauma e depois utilizou o significado baseado na experiência pessoal

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