Coloco a máscara no rosto antes de sair, como de costume, na mochila o álcool em gel,
como manda o protocolo do novo normal. Nunca de fato me acostumei com a rotina
pandêmica, era incômodo cursar o ensino médio nessa situação. Chego em casa após a
manhã cansativa, pouso a mochila no sofá e ouço a voz de minha mãe que sempre
ecoava quando abria a porta. Mas nesse dia, a voz era outra, soava trêmula, embargada,
e carregava consigo a notícia de que teríamos que viajar, minha vó havia nos deixado.
As palavras desceram frias e ásperas pelos meus ouvidos, e por onde passavam
deixavam um rastro gelado, que se convertia em lágrimas, essas que por sua vez, se
convertiam em trauma, dor e silêncio.
Mas o que é trauma? Em termos profissionais, resposta emocional a experiências
perturbadoras, para os indivíduos que assim como eu, não são fluentes no jargão
médico, trata-se da dor que carregamos todos os dias no interior de nossas almas, o peso
que levamos diariamente em nossas costas. Corresponde ao silêncio, a sensação interna
de sofrimento, a dor que parece nunca cessar, que caminha ao seu lado durante o dia, e
em seus sonhos ao anoitecer.
E de fato, ela não cessa, a saudade descrita perdura há 2 anos, mas no decorrer desse
período, tem se convertido de forma cadenciada em algo menos doloroso, talvez o que
se referem como aceitação. Particularmente descrevo como a influência das memórias
boas do que compartilhamos ainda em vida, que culmina em um sentimento quente, que
subjuga o frio interno de outrora e substitui as lágrimas de melancolia por lembranças
ternas. Sinto que o sentimento nunca me deixará completamente, e não quero que deixe,
afinal constitui parte do que me tornei.
-Alex Johnson.
Sinto muito.
ResponderExcluirInteressante a maneira que usou o significado mais formal de trauma e depois utilizou o significado baseado na experiência pessoal
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