Crônica

Foi em dezembro, há cinco anos atrás, período natalino. Francisco Salles, médico

renomado, decidiu sair no fim da tarde, as ruas de São Paulo enfeitadas, as vitrines

especialmente decoradas, ele buscava comprar a sonhada bicicleta para seu caçula,

Antônio. Sempre muito atarefado no hospital, queria compensar o pouco tempo de

convivência com o filho, e saiu de casa com a carteira cheia, em direção ao bicicletário

mais famoso do bairro, quando foi abordado, repentinamente, por uma BMW, no sinal

da avenida paulista.

Com uma pistola apontada na cabeça, Francisco entrou no carro sem pestanejar,

visivelmente em choque. Logo de cara recebeu golpes violentos na cabeça, e em

seguida foi obrigado por um dos sequestradores a entregar a carteira e todos os seus

pertences. Durante a viagem de carro, com direção à favela Heliópolis, os criminosos

realizaram inúmeras compras online com o cartão do médico, com valores exorbitantes.

Ao chegar na comunidade, o colocaram em um cativeiro. Entretanto, o chefe do

tráfico descobriu o ocorrido e discutiu com os sequestradores, alegando ser proibido

levar os prisioneiros para dentro do morro, dando início a um tiroteio. Nesse curto

espaço de tempo, surgiu uma oportunidade para Salles fugir desesperadamente,

deixando para trás todos seus pertences e ficando à deriva na favela.

Por sorte, quando colocou a mão no bolso da jeans, ele encontrou uma nota de cinco

reais, que possibilitou pegar um ônibus para voltar pra casa. Ao chegar em casa,

Francisco estava traumatizado, tremendo sem parar, e para piorar, se deparou com seu

filho aos prantos.

A partir dessa data, o doutor procurou um psicólogo, que o ajudou a curar o trauma

do sequestro, garantindo assim, a sua saúde mental. Além disso, fez uma promessa a seu

filho, em que passou a priorizar a convivência paterna com ele, reduzindo a carga

horária de trabalho, estreitando os laços afetivos.

-Francisco Salles.