A imagem quase dantesca de um corpo insone em uma cama. Dama da noite, flor
que embala as pálpebras abertas. Eu, como um inseto macabro, excelentemente kafkiana,
deitada sem conseguir dormir. O teto, branco e quase vivo, a me esmagar como um terror
precursor do pesadelo.
Antes de estar viva, eu dormia. O sono, o sonho, o travesseiro como os braços
maternos. Uma infante a chorar, eterna.
O meu ócio diurno repugna-me. O meu corpo, quase uma pedra a desabar de um
penhasco, se mexe na cama e eu penso. Pensar é uma ação infinitamente maldita. Há os
dias e seus erros, a voz ensurdecedora de seus pais brigando na sala, uma infância entre
berros, a juventude tímida... refletir é o fado da vida.
Alienante experiência de viver em sociedade. Todos, infinitamente cultos,
infinitamente tolos. Penso, pondero, o cobertor quase me enforca, como uma serpente
famélica com suas escamas frias. Devora-me ela. Partem-me ao meio com uma faca. Sou
o jantar mal requentado dessa que é a minha ignorância.
Minha cama é meu único amor, minha única paixão, enamorei-me por meu leito
e eu nem menos consigo apropriadamente me entregar aos meus sonhos. Utópico desejo
de dormir.
Odisseia cerebral. Pensamento de mil maravilhas. A rainha ordena que minha
vontade vá ao calabouço de minha alma. Sem cabeça e sem futuro. Solidifica-se a solidão
de um quarto bem iluminado.
O meu corpo exala o odor de meu desespero. Encontro-me com o sol.
Toma-me, então, a vontade pungente de Hypnos. Essa manhã bárbara em seu
início e seu final.
Imploro-te, como favor perene, que apenas me acorde quando a lua puder,
novamente, me agonizar. De antemão, te agradeço.
-Christine Daaé.
Bonito texto, só achei muito subjetivo, talvez seja sua forma de lidar com o trauma.
ResponderExcluirNossa, adorei seu texto, achei uma pegada bem forte.
ResponderExcluirA subjetividade do texto me deixou inconclusiva sobre seu trauma, mas acredito que é apenas outra forma mais poetica de relatar. Concordo com você que "pensar é uma ação infinitamente maldita".
ResponderExcluirLindo texto, mas senti que a subjetividade tira o foco do leitor quanto ao trauma em si, já que exige mais da interpretação. De qualquer forma, gostei bastante!
ResponderExcluirApesar de ter gostado do texto, achei que ficou muito subjetivo,o que interfere bastante na mensagem que é passada para o leitor. Talvez sua forma de escrever seja mais pessoal.
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