Todos os dias, Marisa acorda, toma o seu banho matinal e se prepara para fazer o café, sozinha. Dobra suas roupas, cuida do seu filho Franz, faz seus afazeres domésticos e assim segue a sua rotina pacata, esperando Rômulo, seu esposo, chegar do seu trabalho como professor de música erudita em uma universidade renomada.
Rômulo chega em sua casa, novamente depois das vinte e duas horas, Marisa já estava acostumada com as chegadas tardias de seu marido, mas aquilo a incomoda. Rômulo tira a casaca e se dirigia ao seu estúdio, até que Marisa o chama:
-Rômulo, mal volta para casa e já está indo se trancar com aquelas tranqueiras?
-Não são meras tranqueiras, Marisa. -Diz Rômulo. -São os meus instrumentos de trabalho. É o meu dever manter o legado de Liszt vivo.
-Que seja, aparentemente o legado de Liszt é mais importante que o legado da nossa família, você nem janta aqui, fico o dia inteiro a te esperar e no fim nem fala comigo.
-Eu tive um dia duro, meus alunos não apresentam nenhuma aptidão para serem intérpretes. Quando não são agressivos demais são sensíveis demais ao tocar o piano.
-Nossa, é realmente algo gravíssimo. -Fala Marisa em tom irônico.
-Você não entende a gravidade disso! Eles profanam as melhores partituras da história da Primeira Arte!
-Não entendo, eu não entendo de nada relacionado a você. Sempre distante, hiper focado em seu trabalho, chegando tarde em casa. Rômulo, eu estou casada com um estranho.
-Marisa! Como pôde dizer uma coisa dessas?! Diz Rômulo levemente irritado e Marisa responde.
-COMO EU POSSO DIZER UMA COISA DESSAS?! Todos os dias, eu tenho sido tolerante com esta situação. Acordo, faço as tarefas domésticas, cuido do Franz, que caso não saiba é o nosso filho!!! Almoço, janto e fico noites em claro esperando você voltar! -Marisa começa a derramar lágrimas discretas em seu rosto. -Tenho que lidar com a solidão o tempo todo, até quando você está aqui. Já que se isola no estúdio.
Após o desabafo, Marisa não consegue mais conter suas lágrimas, suas dores, dores causadas pela solidão. Passado alguns minutos, Marisa retoma a sua postura e diz:
-O jantar está pronto, caso queira é só esquentar no micro-ondas.
-James Clarkemann.
Nossa, que texto! As falas dos personagens e a pontuação usada conseguiram expressar muito bem o sentimento deles na situação. Gostei muito.
ResponderExcluirComo o Sargento Santiago disse, você conseguiu expressar muito bem o sentimento deles, ótimo texto e escrita incrível.
ResponderExcluirSimplesmente amei a estrutura do texto, seria facilmente uma nova página no meio do livro.
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