sexta-feira, 14 de abril de 2023

 Quando criança lembro que poucas coisas me deixavam tão melancólica quanto o dia das mães na escola. Não que fosse uma data triste ou algo assim, mas lembro da sensação de angústia que sentia quando via as mães dos meus colegas, algumas avós e meu pai chegando para prestigiar a apresentação do dia. Sabia que ela não iria. Desde a minha primeira apresentação eu já sabia que ela não compareceria em quase nada que dizia respeito a mim, mas como diz o ditado “a esperança é a última que morre” eu esperava que por um milagre talvez ela aparecesse por lá. 

  Lembro também do desconforto de sempre me perguntarem sobre ela nesses dias de apresentações e a única resposta que eu tinha era de que ela não quis ir, ou estava trabalhando. Chegar em casa com a lembrancinha e entregar pra ela já sabendo que daqui uns dias estaria jogada em algum canto da casa sem o mínimo cuidado ou apreço. 

  Me vem à memória também as inúmeras vezes em que eu desejei que outras figuras femininas ao meu redor pudessem ocupar o cargo dela de mãe. Professoras, tias, mães de amigos e a lista continua. Era uma sensação estranha ver a conexão que as pessoas tinham com suas respectivas mães e saber que a minha sequer sabia minha cor favorita ou o meu aniversário, e não fazia o mínimo esforço para que existisse uma relação maternal entre nós. 

  Apesar de sempre termos sido extremamente parecidas fisicamente, eu nunca quis ser igual a ela, inclusive chorava quando insistiam em tentar me convencer de que nós éramos de fato similares. Cresci achando que nunca iria querer ter filhos, e convicta de que só casaria quando tivesse cem por cento de certeza do que estava fazendo. Morria de medo de ser uma mãe igual ela, tinha pavor da idéia de parir alguém e sem querer começar a tratá-lo como fui tratada, seria demais pra mim e com certeza seria demais pra qualquer criança que obviamente não pediu pra nascer. 

  Hoje, olhar pra trás e perceber o quanto disso ainda carrego comigo, um rastro de sensação de “abandono” e um medo quase incontrolável da maternidade que ainda penso se terei me fazem pensar se algum dia ela irá perceber que isso são consequências do seu amor e principalmente da falta dele. 


-Apollo Creed. 

3 comentários:

  1. Texto fácil de ler e compreender o sentido/sentimento do escritor(a). Me tocou!

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  2. Gostei muito da escrita e das palavras usadas. Texto emocionante.

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  3. excelente texto. Bem literal mas não me passar a sensação de estar lendo um relato descritivo apenas unindo informações... carrega uma carga emocional tocante

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