sexta-feira, 28 de abril de 2023

TCHAIKOVSKY &; LISZT NO CHÁ DA TARDE

 TCHAIKOVSKY &; LISZT NO CHÁ DA TARDE

Silêncio atordoante.

As mãos do pianista, cortantes e maestras.

O quarto, o homem insone... o piano como uma ponte entre o sonho e tudo o que

é físico. A obsessiva vontade, tola e ingênua, daquele que é incapaz de compreender a

finitude de uma idealização. Toma-lhe as horas, despedaça-as então, com partituras

amareladas, brancas, de um horror quase supremo.

Cisne negro, perfeição sanguinolenta. O que há nesse palco, senão espinhos de

irrealização? Aplaudem sua loucura, seu manicômio de própria imposição. Rômulo

mata Remo e se afoga em seu torpor. Fundação latina de uma Roma feita de sangue.

O protagonista alienado de “Dor Fantasma”, romance o qual permanece como

um estranho homem perdido em minha ignorância, toma as minhas mãos e grita. Há

uma agonia similar àquela presente na Nina de Aronofsky. Martírio dos artistas,

perfeição em um isolamento eterno dentro da insalubridade de sua performance.

Desprazer prazeroso.

Desposa seu piano e ignora sua amante, mulher no papel, mãe de seu filho...,

ora, mas que filho? É, e sempre, apenas, será o progenitor de seu vício.

Na escola, como o broto de uma flor ainda a nascer, tinha em minha frente o

turbulento trabalho de escrever, de forma efetiva, real, pela primeira vez. Não apenas

palavras, sons..., mas um texto. Dei-me à loucura, estive em um estado de pânico

atemorizante, olhei nos olhos de minha professora, amassei o papel e joguei em seu

rosto como um protesto infantil e infame.

Rômulo não joga o papel, não há protesto, a música reina autoritária e o temor

não impera em seus sonhos.

O silêncio é o governador solitário de um terra áspera.

Liszt permanece como uma assombração tortuosa que lhe dita a maldição de seu

futuro. O descanso apenas aparecerá na morte.


Christine Daaé

3 comentários:

  1. Gostei do final, no contexto geral não consegui compreender muito bem o texto e as comparações, talvez por ignorância minha.

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  2. Texto muito criativo e que prende o leitor

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  3. Não consegui me conectar com o texto, talvez seja uma particularidade minha. A subjetividade, em meu ponto de vista talvez excessiva, faz com que o texto fique lento. A formatação também confunde.

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