sexta-feira, 28 de abril de 2023

Uma Memória de Pai

 Franz, uma criança de oito anos, cresceu em um lar silencioso. Seu pai, Rômulo

Castelo, é um pianista que busca a perfeição em suas interpretações artísticas, mas, por

depositar todas as suas energias em sua paixão e trabalho, acaba desprezando sua

família e alunos. A relação de brincadeiras e amor entre pai e filho, tão essencial no

crescimento de uma criança, é impedida pelas horas em que Rômulo passa em sua sala

de estudos aprimorando suas técnicas no piano e ensaiando uma peça conhecida como

intocável entre muitos pianistas, Rondeau Fantastique, de Franz List.

Os primeiros anos de vida de Franz não foram fáceis. Sua mãe, Marisa, teve que sair do

emprego para que pudesse cuidar do filho em tempo integral e, ao mesmo tempo,

tentava suprir a ausência do pai. “Cadê o papai, mamãe?”, perguntava o menino; “Está

dando aula, Franzinho. Já, já ele chega”, respondia Marisa torcendo para que fosse

verdade.

Marisa é uma mulher solitária, que vive sozinha em um casamento. Nunca compreendia

a distância e ausência de seu marido, tanto na relação do casal quanto na relação com o

filho. Com receio de que suas dúvidas e questionamentos irritassem Rômulo, adaptou

toda sua rotina e de seu filho para que não o atrapalhassem. Organizou seus horários de

trabalho para que pudesse conciliar com as horas de brincadeira, banho e atenção ao

filho no período em que Rômulo não estivesse em casa. Sempre em busca do silêncio.

Assim o menino foi crescendo. Cada vez mais distante do pai, fruto de um casamento

solitário e sempre silencioso. Esse comportamento que tinha em casa acabou refletindo

em suas relações na escola, com seus familiares e nos espaços que frequentava, o que

fez que se tornasse um adolescente solitário, quieto, ansioso e sem muitos amigos.

Depois de muito tempo, Franz começou a entender a dor de sua mãe e a parou de tentar

um relacionamento com o pai, fazendo com que Rômulo se tornasse apenas um

fantasma em sua memória.

- Sargento Santiago

4 comentários:

  1. Gostei da temática abordada! Vejo a ideia de seu texto como uma possível "dor fantasma" que cresce com o filho de Rômulo.

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  2. Achei seu texto maravilhoso, amei a interpretação de trazer a dor fantasma no futuro do filho.

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  3. Adorei o seu texto, ele trouxe a reflexão do que é um pai ausente. Pois apesar de Franz ter ambos os pais no mesmo teto que o dele, ele sofre com a ausência do pai que pensa somente eu seu trabalho.

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