Desde pequeno me interesso pela história das pessoas. Acredito que a história de cada
pessoa diz muito sobre ela. Nunca iremos conhecer alguém por inteiro, mas conhecer o
seu passado pode ser um grande passo. Só que para isso é importante ser um bom
ouvinte e também questionador. Eu sou assim. Cresci assim. Cresci ouvindo minha avó
contando histórias sobre a sua vida e os episódios que a marcaram. O mesmo se aplica
aos meus pais. Sempre quis saber como era a vida deles. Como era a casa em que eles
moraram? Como era a relação com pais? E os amigos? Há tanto para se saber da vida de
alguém e é tão difícil entrar no seu íntimo. Dentro de mim sempre existiu essa vontade
de, para além de conhecer, entender as minhas origens. Mas foi desse jeito que um
grande fantasma acompanhou o meu crescimento. Acontece que nessa brincadeira de ir
perguntando, ir conversando, descobri que nem tudo são flores. Hoje eu sei que a vida é
feita desses altos e baixos e não tem como fugir. Eu cresci ouvindo as histórias de como
os meus pais se conheceram e namoraram a distância enquanto o meu pai estava na
academia militar. Cresci ouvindo que a origem do meu pai era muito humilde e que ele
persistiu muito para alcançar o seu sonho de ser militar. E ele conseguiu. Durante um
tempo ele conseguiu. E um dia o sonho acabou. Um pouco antes da formatura, ele foi
desligado. E tudo que veio depois foi consequência de um sonho que não prossegui. De
alguma forma, fui crescendo na sombra desse medo. De decepcionar alguém que já foi
tão decepcionado. De falhar com alguém que já sofreu muito com uma falha. Esse
pequeno medo foi crescendo e crescendo. Será que tem como viver sem falhar? Falhar é
o que de mais humano eu tenho em mim. Sofrer o sofrimento de alguém é muito
dolorido. É tentar resolver algo que simplesmente não pode ser resolvido, pelo menos
não por você. Foi assim que eu me apropriei de um trauma que nem era meu. Em algum
momento dessa vida, esse trauma se tornou tão meu que acabou se fundindo em quem
eu sou e hoje eu sigo o meu caminho tentando me desvencilhar daquilo que na verdade
nunca me pertenceu.
-Dissimulado e Oblíqua.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOs questionamentos que o autor tem durante o texto fazem o leitor entrar mais na história
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