Escolhi responder ao excelente texto de Lia Navarette, “Onde Nasce a Solidão”, devido à
forte identificação que tive ao lê-lo. Também, pudera: apesar da diferente abordagem, falamos sobre
o mesmo assunto, que, diga-se de passagem, parece afligir nós dois de maneira semelhante – a
solidão.
Antes de tudo, gostaria de dizer que esse texto não tem a função de consolar ou desejar uma
mensagem bonita, mas de mostrar que existe alguém com o mesmo quadro que a autora. Reconheço
completamente a sensação de ser uma criança sozinha no meio de uma multidão aparentemente
unida. Também aprendi a conviver com isso, ou melhor, sobreviver com isso. Reforço o
“sobreviver” porque, na realidade, nunca me senti confortável em relação à minha situação.
Para fugir desse desconforto, comecei a fazer terapia. Confesso que desde então tive um
grande salto na minha qualidade de vida, porque passei a dar abertura para que as pessoas pudessem
entrar na minha história. Comecei a conter, ainda que minimamente, o tal medo da rejeição. No
último ano do meu ensino médio, tive o mais próximo que posso chamar de “amizade” em minha
vida. Passei a ter novo hábitos, desde compartilhar detalhes da minha vida pessoal até frequentar
festas de aniversário. Essas coisas, que são naturais e comuns para a maioria das pessoas, eram
totalmente novas para mim.
No entanto, o nível dessas relações nunca me foi suficiente. Tenho a impressão de que, na
verdade, nunca ocupei um espaço significativo na vida de ninguém que fosse de fora do meu círculo
familiar. Sinto que nunca fui amado por quem nunca teve a obrigação de me amar. Me devasta a
ideia de que sou muito amado dentro de casa, mas que não tenho ninguém com que possa contar se
por os pés fora dela. É como se eu não fosse “legal” (ou sabe-se lá qual adjetivo melhor) o
suficiente para ser verdadeiramente querido por alguém. Muito provavelmente, estou, neste
momento, minimizando o sentimento que alguém nutre por mim, mas é o que de fato acredito, lá no
fundo do meu ser, infelizmente.
Enfim, espero que o futuro reserve – tanto pra mim quanto para Lia – uma superação desse
cenário. Por enquanto, seguimos sobrevivendo.
Suco de Soja
Obrigada, Suco de Soja! Sua resposta me tocou bastante, ler seu texto foi como conversar com alguém que entende esse sentimento. Como você disse, vamos sim superar isso em algum momento e, por agora, seguimos sobrevivendo.
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