Os ciclos da vida

 Os ciclos da vida

Eu ainda não sabia, mas aquele mês, aquele agosto, seria diferente para mim.

Lembro-me muito bem do dia em que minha mãe foi me buscar na escola com a

intenção de irmos à casa de meus avôs, seus pais. Após passarmos na sala do meu

irmão, ela me disse que iríamos deixar nossas mochilas com uma vizinha para pegarmos

o ônibus em direção a casa deles. Por estarmos cansados, pedimos para deixar para o

próximo dia. Duas crianças não tinham ideia de quão rápido a vida pode acabar.

Fomos para casa e fizemos tudo o que fazíamos em uma noite de sexta-feira. Fizemos

nossas atividades de casa, brincamos e assistimos desenhos. Quando já era noite,

comecei a sentir um pressentimento estranho, algo como nunca tinha sentido antes.

Como estava me divertindo com meu irmão, não liguei para aquilo. Mas o sentimento

continuou, até que avisei à minha mãe que me disse:

- Não deve ser nada demais, mas vamos rezar pedindo proteção.

Naquele dia, fui dormir cedo por estar cansado, ainda com o pressentimento

incomodo. Quando já estava dormindo, sonhei que meu avô tinha falecido. Como não

queria ficar com esse pensamento horrível na cabeça, ainda mais para uma criança que

amava seu avô, fiz com que ele sumisse o mais rápido e voltei a dormir. Acontece que

nas primeiras horas da manhã daquele sábado, o celular da minha mãe tocou, o que fez a

casa inteira acordar e receber a trágica notícia: meu avô havia falecido.

Por muito tempo pensei que se tivesse avisado à minha mãe, se tivesse feito alguma

coisa, talvez meu avô não teria falecido assim tão de repente. Que se tivesse ido à casa

dos meus avôs naquela sexta-feira, eu o teria visto só mais uma vez. Mas depois

descobri que até ele mesmo já tinha visto a sua partida e somente quando cresci que

entendi que não podemos interromper os ciclos da vida.

-Sargento Santiago.